“As escolas devem olhar para o que se aprende e não para a avaliação”, defendeu hoje João Costa, lamentando que o programa de autonomia e flexibilidade curricular continue a ser visto com bons olhos apenas até ao 9.º ano.
João Costa tentou hoje desmistificar os receios de insucesso académico dos alunos nos exames nacionais por frequentarem escolas com flexibilidade curricular.
Quando chegam aos exames e provas de aferição, “os alunos não falham na memória (…) falham na análise e na crítica”, disse o secretário de estado da Educação, lembrando os problemas que os estudantes têm revelado nas provas quando lhes é pedido para raciocinar, argumentar ou relacionar conceitos.
João Costa considerou “altamente falaciosa” a argumentação de quem defende que o programa de autonomia e flexibilidade curricular – criado pela atual equipa do Ministério da Educação - não prepara os alunos para os exames nacionais.
Este raciocínio “só seria válido se tivéssemos resultados incríveis nos exames e na generalidade das provas”, referiu.
“Mas temos médias de 10, 11 ou 12 valores (numa escala de zero a 20). Então? Não vamos fazer nada em relação aos exames ou vamos olhar para o assunto com densidade?”, questionou.
A ideia de que um currículo mais aberto não é compatível com a avaliação externa foi combatida pelo governante perante uma plateia de dezenas de professores e responsáveis educativos que estão hoje reunidos na Escola Secundária Virgílio Ferreira, em Lisboa, no âmbito da 2.ª Conferencia IAVE – Avaliação Externa, flexibilidade curricular e sucesso académico.
Ao analisar as dificuldades dos alunos nos exames nacionais dos alunos, o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) encontrou um padrão: “Tudo o que ultrapassa o domínio do literal e explicito levanta dificuldades”, afirmou Paula Simões, diretora de serviços de avaliação externa do IAVE, durante a sua apresentação na conferência.
Os alunos portugueses também têm dificuldades na estruturação do discurso. Segundo Paula Simões, “não é que não sabiam, têm é dificuldade em dizer o que sabem”.
Nas áreas das ciências, os estudantes revelaram dificuldades na resolução de problemas quando o exercício é complexo e não rotineiro.
Mais curioso é que os melhores alunos – com média superior a 15 valores – também têm os resultados a descer quando são deparados com itens mais complexos, sublinhou a especialista, anunciando que a avaliação nos exames nacionais deste ano “vai ser orientada para o estímulo à interpretação e tratamento de informação”.
“Enquanto académico”, João Costa defende que “os exames nacionais deveriam ser completamente diferentes de um ano para o outro”, mas sabe que esta tem de ser uma “mudança progressiva”, caso contrário haveria “um tumulto".
O secretário de estado lembrou que a ideia da flexibilidade curricular é ser uma ferramenta para permitir aos alunos aprender melhor, acrescentando que “se aprenderem melhor, os exames vão correr melhor”.
Os especialistas em educação que hoje de manhã participaram no colóquio acreditam que a flexibilidade curricular pode ajudar a desenvolver o raciocínio, o sentido crítico e a capacidade de relacionar diferentes matérias, ferramentas essenciais para o futuro dos jovens.
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