O despacho de acusação, a que a agência Lusa teve hoje acesso, refere que os quatro militares, Tenente-Coronel Marco Gonçalves, Tenente-Coronel António Quadrado, Tenente Henrique Silva e o Cabo Nuno Rodrigues, utilizaram um recurso letal quando poderiam ter utilizado outros meios para conseguirem que Alcindo Gomes se entregasse voluntariamente.
O documento salienta ainda que os arguidos Marco Gonçalves, do Comando Territorial de Setúbal, e António Quadrado, do Grupo de Intervenção e Operações Especiais (GOIE) da GNR, tinham à sua disposição diversos cães, um carro blindado, dois negociadores e um total de 66 militares da GNR, para além de outros recursos que poderiam ter solicitado para o local.
Tudo começou cerca das 10:45 do dia 7 de dezembro de 2021, quando vários elementos da GNR se deslocaram à residência da vítima, no cumprimento de um mandado de busca que visava, essencialmente, a apreensão de todas as armas de fogo e munições que Alcindo Gomes tivesse guardadas em sua casa.
Quando os militares chegaram à residência de Alcindo Gomes, este não se encontrava no local, mas foi detetado nas imediações da habitação, munido de uma arma de fogo do tipo caçadeira.
De acordo com o Ministério Público, os militares pediram a Alcindo Gomes que colocasse a arma de fogo no chão, mas o homem não só nunca correspondeu à solicitação da GNR, como insultou os militares e efetuou um disparo, antes de se esconder numa zona de vegetação.
Na sequência deste incidente, o Tenente-Coronel Marco Gonçalves, do Comando Territorial de Setúbal, decidiu mobilizar para o local o Grupo de Intervenção e Operações Especiais (GOIE) da GNR e deu-se início a uma operação tática que viria a culminar na morte de Alcindo Gomes.
De acordo com o Ministério Público, Alcindo Gomes terá sido mortalmente atingido, com cinco disparos efetuados pelos militares da GNR, quando saía de dentro de uma moita de arbustos e arvoredo, empunhando a caçadeira na direção dos militares, mas mantendo-se estático e sem efetuar qualquer disparo.
Na altura, em dezembro de 2021, a GNR informou em comunicado que Alcindo Gomes, “após a advertência clara e inequívoca para largar a arma, não acatou a ordem, mantendo-se assim como uma ameaça iminente para a vida dos militares”.
“Foi necessário os militares recorrerem à utilização de arma de fogo, em legítima defesa, tendo atingido o suspeito de forma a neutralizar a ameaça”, justificava o comunicado da GNR.
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