Perto de 100 manifestantes juntaram-se, esta manhã, em frente ao edifício da Câmara de Odemira, onde decorre, desde as 10:55, uma reunião com os vários parceiros que assinaram o Pacto da Água em 2023, para discutirem a falta de recursos hídricos na região.
O encontro, a convite dos autarcas de Odemira e Aljezur (Faro), conta com a participação da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, do ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, empresários do setor agrícola e associações de produtores, ambiente e turismo.
Os governantes, que chegaram em separado ao edifício, foram vaiados pelos manifestantes enquanto entoavam "a água é do povo, a água é para todos".
Alguns dos elementos acabaram mesmo por passar a porta principal do edifício camarário, mas foram impedidos de prosseguir.
Em declarações à agência Lusa, Fátima Teixeira, do movimento Juntos pelo Sudoeste, revelou a sua preocupação em relação à cota da barragem de Santa Clara e às medidas que vão sair deste encontro.
"Temos a promessa do ministro do Ambiente de quando a cota da barragem baixar até aos 104 metros para a água canalizada, para a irrigação, e depois temos todo o 'lobby' da agricultura intensiva a fazer pressão à ministra da Agricultura, provavelmente, para aumentar as dotações e baixarem mais a cota na ordem dos 92 metros", afirmou.
Em causa está “a qualidade e o volume de água que os consumidores domésticos vão ter”, salientou a responsável, acrescentando que, caso baixem a cota “para ir mais água para a agricultura” vão “ter de começar a cortar” nos consumidores domésticos, “que são só 6% da água que sai da barragem” de Santa Clara.
De entre os inúmeros cartazes onde se podiam ler frases como “Estufem a vossa prima”, “Dinheiro rápido, estragos permanentes” e “A água é de todos”, Andreia Henriques, residente em Relíquias, queixou-se da falta de coerência em todo o processo de distribuição da água.
“Todos sabemos há vários anos que os níveis da água da barragem estão muito abaixo do que seria permitido e acho muito estranho como é que ainda pensam dar mais água às estufas, quando sabemos que essas estufas nem trazem receita para Portugal”, defendeu.
Já Luísa Rebelo, em representação de um turismo rural, em Brejão, na freguesia de São Teotónio, confessou à Lusa que vê o seu futuro ameaçado.
“Todos nós que vivemos nesta região temos sido esquecidos. Toda a água que sai da barragem de Santa Clara vai para a agricultura intensiva, sem haver uma organização e de forma sustentável, gastando todos os nossos recursos e, claro, que quem quer continuar com as suas atividades, principalmente no setor do turismo, vê o seu futuro ameaçado”, sublinhou.
Também Diogo Coutinho, da associação SOS Rio Mira, lamentou a forma como todo o processo está a ser conduzido “quando o problema da falta de água na barragem se tem vindo a agravar de dia para dia”.
“Penso que é fundamental pensar-se na forma como a água é utilizada [porque] não é um recurso económico. A água é vital para todos e os rios são a artéria de vida do planeta e o rio Mira tem uma importância fundamental para este território”, defendeu.
O protesto, que arrancou perto das 10:00 com cânticos e palavras de ordem, foi interrompido com a chegada dos ministros, mas algumas dezenas de manifestantes optaram por permanecer no local até à conclusão da reunião.
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