Um otimista, um moderado e um pessimista, assim estão Manuel Pizarro, deputado europeu membro da delegação das relações UE-Rússia, João Duque, economista, e Luís Mira Amaral, antigo ministro da Indústria e Energia. Numa coisa todos estão de acordo: as sanções aplicadas à Rússia atuam nos dois sentidos e é preciso medir bem as consequências para o mundo ocidental.

Outra certeza é a de que a transição energética vai ser atrasada. A dependência da Rússia nesta matéria deixa a União Europeia em maus lençóis, e Mira Amaral aponta o dedo à "decisão precipitada e irresponsável de acabar de um momento para o outro com algumas fontes clássicas de energia, tendo a ilusão de que as renováveis intermitentes as poderiam substituir".

E culpa o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, por ter provocado o fecho das centrais a carvão. "Estamos aqui armados em cavaleiros andantes, com 0,15% [da produção] de CO2 mundial, a querer sozinhos estabilizar o mundo. Isto é irrealista", constata.

Manuel Pizarro lembra que no caso português "temos uma tempestade perfeita", já que esta crise chega ao mesmo tempo que Portugal atravessa um ano de seca, "que limita muito a produção de energia de fonte hídrica". A solução, acredita, passa por o governo "garantir um mecanismo que faça com que o Estado não tenha uma vantagem fiscal pelo aumento dos preços da energia".

Mas será preciso mais. "Estado vai ter de fazer investimento para garantir apoio a mais famílias, senão teremos impactos dramáticos do ponto de vista da qualidade de vida, mas também dramáticos do ponto de vista da saúde", porque uma parte da mortalidade excessiva que existe no Inverno está relacionada com "infeções víricas ligadas à incapacidade e as pessoas terem conforto térmico nos locais onde habitam", diz o médico.

João Duque considera que o primeiro-ministro tem aqui "o pretexto para e o dever de rever o Orçamento do Estado para 2022, até pelas dificuldades que algumas famílias vão ter de enfrentar". Apesar de tudo, o economista acredita que, dada a sua localização geográfica, Portugal poderá beneficiar de setores como o do turismo.