Numa entrevista à agência Lusa, em Lisboa, a ministra de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros e dos Expatriados Palestinianos, Varsen Aghabekian Shahin, salientou, porém, que a situação da Palestina, para já, é a mesma, “seja com o Presidente Trump, seja com o Presidente [Joseph] Biden”.
“O que ansiamos é pela nossa libertação, autodeterminação e o nosso Estado soberano com Jerusalém Oriental como sua capital, conforme consagrado no direito internacional. O que esperamos do Presidente Trump é que olhe para nós dentro desse contexto, acabar com essa guerra genocida e com as atrocidades. E que chegou a hora de materializar o Estado da Palestina no terreno, como foi reconhecido nas Nações Unidas”, frisou Shahin.
Lamentando a ideologia de extrema-direita em Israel, liderada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a chefe da diplomacia da AP, liderada pela Fatah de Mahmoud Abbas na Cisjordânia, insistiu na ideia de que Trump acolha o fim da guerra e da criação dos dois Estados “a viver em paz e segurança um ao lado do outro”.
“Israel tem lóbis fortes em todo o mundo. Todos nós sabemos que os Estados Unidos são o maior aliado estratégico de Israel e têm muito peso. O lóbi israelita é extremamente forte”, acrescentou a governante palestiniana, que se encontra em Lisboa para participar no fórum da Aliança das Civilizações.
“Há esse sentimento de culpa em toda a Europa com o que aconteceu com os judeus na Europa. E nós entendemos isso. O que aconteceu é atroz. Não deveria acontecer com ninguém. Mas as mesmas dores são infligidas hoje sobre nós, os palestinianos. E a Europa, os Estados Unidos, todos os países do mundo precisam de olhar para isso e dizer que chega. Os palestinianos não tiveram nada a ver com o que aconteceu com os judeus na Europa e não devem suportar o peso. E é hora de eles serem libertados, assim como qualquer outro povo e nação nesta terra”, sustentou.
Shahin recusou comparar Netanyahu a Adolf Hitler, líder nazi, salientando que não gosta de comparar atrocidades, “independentemente do que as pessoas queiram chamar, do que as pessoas estejam a dizer”.
“Para mim, como palestiniana, o que estou a ver é um crime contra a humanidade, pois estou a ver destruição em massa, estou a ver massacres em massa do meu povo diariamente. E tudo o que estou a ver é matar civis e mais civis dia após dia”, sublinhou, defendendo que a extrema-direita “sempre fez parte da ideologia em Israel”, que já está, no seu entender, a “expandir a guerra para o Líbano”
”E vimos os mapas que foram fornecidos por Netanyahu e as declarações de [o atual ministro das Finanças israelita, Bezalel] Smotrich sobre expandir as aspirações [de acabar com os territórios palestinianos]. Está muito além da Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza. E com declarações como essa, com mapas apresentados na ONU e em outros lugares, há preocupação”, frisou.
Por essas razões, prosseguiu, é que se não houver paz entre Israel e a Palestina, “há a grande ameaça de um conflito regional, de maiores proporções”, numa região em que há “muitos jogadores” como o Irão e o Iémen, entre outros.
“Tudo isso precisa de ser levado em consideração. Mas se se quer realmente que a região viva em paz e segurança, a única solução é na frente israelo-palestiniana. Assim que as coisas se movam nessa frente, tudo na região será tratado de forma mais apropriada do que agora”, acrescentou.
“Todos querem ver uma solução, mas não uma solução de hegemonia, não uma solução de um povo que se considere e com o direito de fazer o que quiser em nome da autodefesa. Isso não é autodefesa. Isso vai muito além da autodefesa. Esta é uma terra ocupada. Defende-se o próprio Estado. Mas quando se ataca um território ocupado, como consagrado na lei internacional, deixa de ser autodefesa. É ocupação”, argumentou.
Sobre o atual momento que se vive nos territórios palestinianos, após quase 14 meses de conflito, Shahin defendeu que a situação é, “no mínimo, catastrófica”.
“É um genocídio, é um crime contra a humanidade. As vidas que foram perdidas e o número de pessoas que foram feridas são algo sem precedentes e é inconcebível. E é preciso parar com isso imediatamente, respondeu a chefe da diplomacia palestiniana, sublinhando que a comunidade internacional tem de exigir uma solução.
“Precisamos de exigir uma solução. E esse genocídio pode ser interrompido. Se a comunidade internacional se unir para parar a guerra, isso pode ser feito. E acho que chegamos a um ponto em que não podemos mais aceitar isso e a humanidade não pode aceitar porque é imoral. O que está a acontecer é um crime contra a humanidade e a maior imoralidade”, insistiu.
*Por José Sousa Dias (texto) e João Relvas (foto)
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