Em declarações aos jornalistas no Mercado da Brandoa, no âmbito da iniciativa “Sentir Portugal”, esta semana dedicada ao distrito de Lisboa, Luís Montenegro disse já ter alertado para “as falsas expectativas” que iriam ser criadas com a medida que isenta de IVA um cabaz de 46 alimentos considerados essenciais e que entra hoje em vigor, dispondo o retalho alimentar de 15 dias para refletir esta isenção nos preços de venda ao público.
“Comprovei hoje que não só o efeito não se fez sentir como em alguns produtos houve quem me transmitisse que os preços subiram ontem”, alertou, lamentando que não tenha havido capacidade de monitorização desta situação.
Por outro lado, reforçou, a medida tem “um efeito meramente simbólico”, já que se trata de “pouco dinheiro e poucos produtos”.
“Há dois países: o dos ‘powerpoint’ do dr. António Costa e do dr. Fernando Medina, que tem grande embelezamento e números muito pomposos, e depois o outro mundo, o mundo real, que não acompanha o primeiro”, afirmou.
Para Luís Montenegro, não é pela redução do IVA em alguns dos produtos que as pessoas vão ter mais “dinheiro no bolso”, considerando que “a política fiscal do Governo é errada”.
“Eu não escondo, eu defendo como medida fiscal mais eficiente a descida dos impostos sobre os rendimentos do trabalho. Se as pessoas pagarem menos IRS, vão ter mais dinheiro disponível, mais poder de compra”, defendeu.
Banca a banca, no Mercado Municipal da Brandoa, o líder do PSD foi perguntando se a medida do IVA zero já tinha causado algum impacto nos preços e as repostas não foram uniformes, mas ninguém confirmou um impacto positivo.
Houve quem lhe respondesse remetendo esse assunto para o contabilista por ainda ter “esta semana para orientar” a questão, houve quem tenha dito não saber “como é que é isso” do IVA zero e houve, até, quem alegasse um aumento propositado dos preços no dia anterior por parte dos fornecedores para anular a descida do imposto.
Um feirante que está há oito anos no mercado disse que, na segunda-feira, os preços subiram “10, 20 cêntimos”, o que, referiu, “não compensa o aumento do IVA”.
“Os preços subiram, ontem. A laranja também subiu. Maçãs, peras, tudo subiu. Não compensa com [a descida] do IVA”, afirmou o vendedor.
Na mesma banca, Montenegro parou para conversar e decidiu comprar “coisinhas para fazer uma sopa sem batata”. Sem batata, diz, para ver se tem “menos hidratos” e comprou, seguindo a sua ideia, uma couve-flor “grande” e duas curgetes.
“As frutas e as hortícolas são muito melhores nos mercados. Os senhores da grande distribuição não gostam de ouvir isto, mas é verdade”, referiu.
A conversa com quem por lá andava às compras foi alternando entre queixas sobre o aumento do custo de vida e votos de boa sorte. A resposta do social-democrata passou pela necessidade de “resistir e ter esperança”.
O último ponto da visita no mercado, foi num talho que, referiu o talhante, “nunca teve tanta gente” como hoje. “Se toda a gente gastasse um euro aqui estava eu muito bem”, afirmou.
O talhante disse não ter sentido nada sobre o IVA, nem nos seus preços, nem nos preços dos fornecedores e contou que, com o aumento do custo de vida, as pessoas têm mais atenção às suas compras no talho e “vão mais para as aves” por serem mais baratas.
Montenegro acabou as compras no mercado a levar “quatro bifes de alcatra” e como estava sem os filhos, que preferem frango, levou também “dois bifinhos de peru” e terminou a tomar um café com a comitiva social-democrata que o acompanhou.
A visita ao mercado custou cerca de 17€ ao líder do PSD que não aceitou que lhe oferecessem meia melancia e insistiu que tudo fosse faturado.
No sentido contrário, Montenegro ofereceu gerberas cor de laranja às pessoas com quem ia conversando. Uma senhora que estava às compras aceitou a flor, agradeceu, mas não se inibiu de perguntar “quem era o senhor” que lhe tinha feito a oferta. O presidente do PSD respondeu perguntando se a senhora nunca tinha visto a sua cara nos cartazes da rua.
(Artigo atualizado às 13h10)
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