Barry May morreu em Richmond, a sua cidade natal, disse à agência Lusa a sua mulher, Dolly May.

O jornalista, que viria a ser um dos principais correspondentes internacionais da Reuters, com missões que passaram pela África do Sul do apartheid e o Irão de Khomeini, tinha 19 anos e trabalhava no semanário local Richmond & Twickenham Times, em abril de 1963, quando lhe foi pedido que escrevesse sobre a “cena musical” no subúrbio a sul de Londres.

Os Stones, também em início de carreira, depois de vaguearem por algumas salas da capital britânica, tinham conseguido pela primeira vez o estatuto de banda residente no recém-aberto Crawdaddy Club de Richmond, onde atuavam desde fevereiro, interpretando os temas mais populares do Rhythm’n’Blues (R’n’B), então em fase de descoberta no Reino Unido.

Ainda não passara um ano desde que Brian Jones pusera no Jazz News o anúncio que viria a dar origem aos Stones, e tudo mudaria após a publicação do artigo de página inteira de Barry May, em 13 de abril de 1963: The Beatles foram ouvi-los no dia seguinte, o contrato com a Decca aconteceu algumas semanas mais tarde, e o primeiro disco da banda, com uma versão de “Come on” de Chuck Berry, seria editado a 07 de junho, já como The Rolling Stones, dois meses depois de o jovem estagiário ter ido ao seu concerto.

Nesse artigo, Brian Jones surge como líder dos Rollin’Stones, nome original vindo do “Rollin’Stone Blues”, de Muddy Waters, e os músicos dizem-se “semi-profissionais”: Brian Jones, “arquiteto” do grupo, o pianista Ian Stewart, escriturário numa farmacêutica, Mick Jagger, estudante da London School of Economics, e Keith Richards, do Sidcup Art College, Bill Wyman, baixista dos Cliftons e músico a tempo incerto desde o termo do serviço militar, e o designer Charlie Watts, baterista de jazz nos tempos livres.

O artigo prende-se ao fenómeno R’n’B que a banda fixara nas traseiras do velho e condenado Station Hotel de Richmond, levando o Crawdaddy Club a subir de um público regular de 50 para mais de 300 pessoas por noite, em poucas semanas.

A reportagem fala da dificuldade de Mick Jagger se mover em palco, tão cheia estava a sala do clube que tomou o nome do êxito de Bo Diddley, expoente do R’n’B nos EUA. Como Barry May previa no final do artigo, o hotel foi demolido, o clube teve de procurar uma nova sede e os Stones continuaram “a rolar”. May manteve-se a fazer a cobertura da “cena musical pop” durante algum tempo, mas depressa optou pelo “jornalismo mais ortodoxo”, como confessou 55 anos mais tarde ao News Decoder, da rede educacional Nouvelles Découvertes. Em Londres, começou no jornal The Scotsman, seguindo-se a Associated Press e, depois, a Reuters, para onde entrou em 1968 e onde trabalhou durante mais de 30 anos. O jornalismo de agência nunca mais abandonou a sua vida.

Barry John May nasceu em agosto de 1943 em Richmond-upon-Thames. Foi correspondente no Paquistão, na África do Sul e nos Estados Unidos. Em julho de 1981, foi um dos três jornalistas da Reuters expulsos do Irão pelas forças do ayatollah Khomeini.

Em causa estavam notícias sobre iranianos “desiludidos pela forma como a revolução anti-Xá e anti-americana de 1979 se estava a tornar num golpe islâmico”, recordou à Lusa o jornalista escocês Phil Davison, na altura a liderar a delegação da Reuters em Teerão. “Ameaçados por militantes pró-Khomeini”, os três correspondentes – Adam Philps, Barry May e Phil Davison – tiveram “apenas tempo para fazer as malas e apanhar o primeiro avião”, num dia de fuzilamentos na capital iraniana.

May chefiou ainda a delegação da agência britânica no Golfo, e esteve à frente da área de Economia, tendo sido fundador e primeiro editor do Reuters Business Report na Europa. Quando se reformou, criou o ‘site’ The Baron, dedicado a trabalhadores da Reuters, geriu o fundo de pensões da agência, presidiu a Richmond Society, foi eleito para a Royal Society of Arts e recebeu o título Liberdade da Cidade de Londres.

Phil Davison disse à Lusa que “a história mais influente” de Barry May, apesar da sua “longa e ilustre” carreira, foi provavelmente o seu primeiro artigo sobre os Stones, recordando como Bill Wyman testemunhou por várias vezes “o orgulho do grupo” quando viu o texto publicado, e como Brian Jones fez questão de manter uma cópia dessa página, dobrada na sua carteira.

“O meu artigo foi o primeiro sobre eles a ser publicado em qualquer lado”, recordou Barry May ao News Decoder, em 2018. “Os Stones continuaram a tocar, numa vida de álbuns de sucesso, digressões mundiais e casamentos desfeitos. E os meus gostos musicais voltaram ao género que tinha aprendido a apreciar com o meu pai, o jazz.”