De acordo com as primeiras projeções da RAI, televisão pública italiana, o Movimento 5 Estrelas será o vencedor destas eleições, ainda que sem maioria absoluta, com uma votação entre 29,5 e 32,5% dos votos. A coligação liderada pelo Força Itália de Berlusconi terá, de acordo com as sondagens à boca das urnas, entre 35%-36%, falando a maioria absoluta que só é obtida após os 40%.
Os italianos votaram neste domingo numa das eleições mais incertas de sua história recente, em que a coligação de direita liderada pelo regressado - o ressuscitado como alguns meios dizem - Silvio Berlusconi partia com uma vantagem sobre o Movimento 5 Estrelas (M5S) que se assumiu como um partido antissistema.
Seguro da vitória, o Movimento 5 Estrelas, participou sozinho e recusou-se a fazer alianças, tendo apresentado os 17 ministros do seu futuro governo. "A fase em que estávamos na oposição acabou e agora vamos governar", disse o jovem Luigi Di Maio, candidato com apenas 31 anos ao cargo de primeiro-ministro.
Ao longo do dia, em diversos colégios eleitorais houve longas filas, em parte pela participação elevada, mas também pelo novo sistema eleitoral, para muitos complexo e difícil de entender.
Às 19h00 locais (18horas de Lisboa), a taxa de participação era de 58%, segundo o Ministério do Interior, percentagem mais alta que em 2013 - quando a votação aconteceu em dois dias.
Os resultados ainda são incertos para os mais de 46 milhões de eleitores, cujo voto será a chave para o futuro da terceira economia da União Europeia, que luta contra a estagnação.
A votação começou às 7h00 e durou até às 23h00 (22 horas de Lisboa) para eleger 630 deputados e 315 senadores.
O ministro de Interior, Marco Minniti, alertou na sexta-feira que os resultados serão divulgados muito tarde e que a contagem será muito lenta.
Após votarem, muitos eleitores expressavam sua amargura, no final de uma campanha dominada por questões como imigração, insegurança e promessas económicas milionárias impossíveis de cumprir, bem como agressões e insultos entre militantes neofascistas e antifascistas, algo que não se via desde a década de 80.
"É uma honra para mim votar na Itália. Foi uma campanha horrível, cheia de ódio, mas votei com esperança de que tudo melhore, de uma mudança", comentou em Florença o escritor de origem argentina Roben Edgardo Caime, de 65 anos, que vive há 35 anos na Itália.
Se as últimas projeções forem confirmadas, a coligação formada pelo partido de Berlusconi, Forza Italia, os xenófobos da Liga do Norte e os neofascistas dos Irmãos da Itália não conseguirão uma maioria absoluta e terão de negociar com outras formações para poderem governar.
De acordo com especialistas, o limiar para obter a maioria dos lugares no Parlamento é entre 40 e 45% dos votos com o novo sistema eleitoral, um verdadeiro labirinto que combina o voto proporcional com o voto majoritário.
A aliança liderada por Berlusconi, três vezes o primeiro-ministro, de 81 anos, alcançaria, de acordo com as sondagens, entre 35 e 37% dos votos, uma percentagem insuficiente para governar.
Berlusconi luta dentro de sua própria coligação com a Liga Norte de Matteo Salvini que surgiu como uma formação ultranacionalista e eurocética, seguindo o modelo da Frente Nacional francesa de Marine Le Pen.
Uma vitória de Salvini, que prometeu a expulsão de 600 mil imigrantes e o fecho das fronteiras, sacudiria grande parte da Europa.
Enquanto isso Berlusconi, inabilitado para o cargo devido a uma condenação por fraude fiscal, tenta tranquilizar o bloco europeu propondo como primeiro-ministro o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani.
Não está descartada a possibilidade de que a Itália seja governada por um líder abertamente de extrema-direita, que reúne parte do descontentamento e mal-estar dos italianos
Matteo Renzi, líder PD, politicamente desgastado, convidou "os eleitores da esquerda radical e os moderados a votarem para o Partido Democrata (PD, centro-esquerda) para que este país não caia nas mãos de Matteo Salvini".
A situação é complexa para a coligação de centro-esquerda, com 27,4% das intenções de voto, e para o outrora maior partido na Itália, o PD, com 22,9%.
"Pessoalmente, vejo muita confusão, perdeu-se o rumo", disse Giuseppe, natural do sul da Itália, à AFP no sábado, enquanto um grupo de jovens disse que estava indeciso.
"Eu quero punir esta classe política corrupta e enganosa que nos governa e é por isso que eu voto para o M5E", declarou um médico sem revelar seu nome.
Os indignados "à italiana", sem ideologia, apoiados principalmente por jovens dispostos a romper a bipolaridade tradicional entre a direita e a esquerda, estão prontos para governar pela primeira vez o país se alcançarem a façanha de mais de 40%.
Mais de um milhão e meio de italianos residentes na América Latina, incluindo 800 mil na Argentina, foram convocados a votar. Esta é a quarta vez que os italianos que vivem no exterior, perto de 4 milhões, exerceram esse direito, concedido em 2001.
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