Realizado após uma semana de reuniões na localidade alpina de Interlaken (Suíça), este 6.º relatório sintetiza todos os outros cinco elaborados pelos peritos do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC na sigla em inglês) desde 2015, assinalando que na década de 2011-2020 o planeta aqueceu 1,1 graus em relação aos níveis pré-industriais (1850-1900)
“A Humanidade caminha em gelo fino – e esse gelo está a derreter rapidamente”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, adiantando que o mundo “necessita de ação climática em todas as frentes – tudo, em todos os lugares, ao mesmo tempo”, numa referência ao filme mais premiado na última cerimónia dos Óscares, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”.
Ainda é possível
A associação ambientalista ZERO assinalou que ainda é possível reduzir as emissões de combustíveis para metade até 2030, considerando que os próximos sete anos são “essenciais para decidir o destino” da humanidade.
Reagindo à divulgação do relatório, a ZERO assinala que os peritos consideraram “difícil, mas exequível” o objetivo de manter o aquecimento global abaixo dos 1,5ºC, desde que haja “vontade política”.
Em 2015, em Paris, a quase totalidade dos países membros das Nações Unidas comprometeu-se a limitar o aquecimento global a um aumento de 1,5 graus celsius (°C) acima dos valores pré-industriais, mas “as atuais políticas” têm conduzido a “uma aproximação dos 3°C”.
A “melhor forma” de conseguir travar a crise climática é eliminando os combustíveis fósseis, recorda a ZERO, sublinhando que “as soluções para o conseguir existem”, nomeadamente tecnológicas.
Segundo a organização não-governamental, "a diferença entre 1,5 e 2 graus não é de 0,5 - os impactos seriam duas vezes piores ou mais para muitos riscos (acesso a água potável, perda de biodiversidade, aumento da pobreza e imigração, entre muitos outros)".
“O custo da inação será muito mais elevado de muitas perspetivas diferentes: Quer financeira, quer socialmente e também para governos, empresas e famílias”, refere a associação ambientalista, acrescentando que o relatório do IPCC “mostra os enormes benefícios do desenvolvimento sustentável, da rápida implementação da energia solar e eólica e de outras utilizações de energias renováveis, bem como do aumento da poupança de energia, com custos maciçamente reduzidos”.
Lembrando também que os “impactos climáticos” já afetam todos no planeta, “mas não da mesma forma”, a ZERO exorta os que “historicamente poluíram muito mais” a fazerem um maior esforço para a necessária redução das emissões globais de gases com efeito de estufa “em pelo menos 43% até 2030”.
“O relatório do IPCC avalia a Europa como a 2.ª maior região historicamente emissora (1850-2019) depois da América do Norte”, refere o comunicado, advertindo que “no caso de as emissões de gases com efeito de estufa continuarem a crescer, os 1,5°C poderão ser atingidos em 2030-2035.”
“Há uma razão pela qual se fala sobre um aumento máximo da temperatura de 1,5° Celsius. Não é um desejo, nem uma palavra da moda... É um alvo de sobrevivência científica. Por mais dramática que seja, a equação é bastante direta: Conhecemos os problemas e as soluções, resta a vontade política”, indica o presidente da ZERO, Francisco Ferreira, citado no comunicado.
Em relação à União Europeia (UE), a ONG considera que “o Pacto Ecológico Europeu tem de ser mais ambicioso” e que o bloco “deverá atualizar” a meta de redução das emissões em 55% para “pelo menos 65% até 2030 em relação a 1990” para “ser compatível com o Acordo de Paris”.
Defendendo que “os países da UE precisam de refletir objetivos à escala nacional na revisão em curso dos seus Planos Nacionais de Energia e Clima (PNEC)”, a ZERO alerta que, no caso de Portugal, é necessária “uma muito melhor gestão da procura de energia, com destaque para as medidas que proporcionem efetivamente uma redução nas emissões no transporte rodoviário individual, edifícios mais confortáveis e eficientes e investimentos em fontes de energia renovável aplicados de forma sustentável”.
“Precisamos que a União Europeia, e Portugal em particular, sejam líderes climáticos e contribuam de forma séria e coerente para nos tirar das muitas crises que enfrentamos, dando um impulso histórico e de uma vez por todas, comprometendo-se publicamente com o que todos sabem que precisa acontecer para evitar consequências ainda mais terríveis: descartar os fósseis combustíveis e protegendo as pessoas e o planeta”, afirma Francisco Ferreira.
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