"Começámos o nosso projeto em 2002, podem imaginar o que foi uma jornada de oito anos até o [primeiro hotel] Martinhal estar construído e aberto — e depois enfrentámos a crise financeira. Foram anos duros", assume Chitra Stern, fundadora e administradora deste grupo hoteleiro.

Chitra Stern foi convidada a partilhar a sua experiência no BTL Lab, promovido pelo NEST - Centro de Inovação do Turismo, num evento cujo objetivo é dar um palco próprio à inovação na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), a maior feira nacional do setor.

No entanto, continua, "ao sermos resilientes, sendo éticos e tendo uma equipa diversificada, conseguimos fazer crescer o nosso negócio do zero, construir algo com significado e daí expandimos", conta.

Hoje, trata-se de um negócio de 20 milhões de euros, que além de cinco unidades hoteleiras tem agora um hub de educação, onde se inclui uma escola internacional que abriu portas em setembro de 2020, ou seja, em plena pandemia, "um tempo horrível".

Quando falamos com Chitra Stern sobre os desafios de relançar um dos setores mais afetados pela covid-19, a memória recua aos dias desafiantes do arranque de um projeto que nasceu no Algarve, na "ventosa" Sagres, pensado para servir as famílias (sem que isso implique menos luxo — "só porque tivemos filhos não significa que não temos autorização para ter luxo", graceja) e que continua a crescer.

"Digo sempre à minha equipa que a próxima recessão está ao virar da esquina e pode afetar-te de diversas formas. Não relaxem, não pensem que tudo está bem, estejam preparados. (...) Acho que isso também nos preparou para esta crise", diz, explicando que o seu objetivo não é "ser derrotista", mas a mensagem é clara: "não descansem sobre os vossos louros". "A pandemia provou mais uma vez que as coisas podem mudar de um momento para o outro e tens de ser capaz de sobreviver a esses períodos", alerta.

Ao mesmo tempo, todavia, é preciso "não perder a esperança". "Hoje percebo porque é que o governo britânico dizia 'mantenham a calma e continuem' durante a Segunda Guerra Mundial. Estamos a sair de uma pandemia e começou uma guerra na Ucrânia. Precisamos de ser resilientes, de nos manter focados nas nossas pessoas, nas nossas empresas e comunidades, e em conseguir fazer as coisas acontecer. Nós estamos a receber hóspedes até nestes momentos e temos de cuidar deles. Eles estão cá por uma razão. Então, vamos continuar", reitera.

Olhando para o contexto do setor, a fundadora do grupo Martinhal acredita que "em Portugal temos todas as condições para recuperar o setor: somos um ótimo destino, o nosso país foi percecionado como tendo uma população fantástica, com um comportamento responsável, que se vacinou, que usou e continua a usar máscara... Acrescentando a isso os ativos de base, pessoas fantásticas, comida fantástica e praias fantásticas, temos boas razões para voltar em força".

Contudo, para o fazer, é preciso ter os alicerces certos, que para Chitra Stern passam por olhar para o futuro, promover a diversidade e ser ético.

"Ter impacto positivo nas economias locais, ser sustentável e criar equipas incríveis". Esta é a visão.

A diversidade é fundamental porque "faz sobressair o melhor das equipas. Se tiveres um conjunto diversificado de pessoas à tua volta, pode olhar para as coisas do seu ponto de vista e isso permite encontrar as melhores soluções e produtos. Por isso é que a diversidade é tão importante", reitera.

Já a ética, "salienta o que de melhor existe numa empresa". "Um negócio é sobre as pessoas que tens à tua volta e há vários stakeholders a considerar. Os acionistas são aqueles que têm de conseguir vingar, que têm de fazer o negócio funcionar. Depois, tens os bancos, que te emprestam dinheiro, e o negócio também tem de funcionar para eles. Há ainda os hóspedes, de quem tens de cuidar, o que só é possível com as tuas pessoas. Portanto, no final do dia, a empresa tem de funcionar para eles também. Por fim, operas no contexto de uma comunidade e de um país, logo, tem de ser bom para eles também. Em resumo, todos estes temas que têm sido levantados na ótica da sustentabilidade são questões que a ética endereça e não é algo novo. Estamos a falar, no fundo, dos valores com que estás a fazer crescer e a escalar a tua empresa".

Edu Hub: um centro de educação, inovação e criatividade

A United Lisbon International School é uma escola internacional no coração de Lisboa, perto do Parque das Nações que integra o campus Edu Hub, a mais recente incursão do grupo Martinhal.

A escola, que conta com mais de 300 alunos de 35 nacionalidades, é "só a primeira parte" deste campus, que se propõe ser um "centro de educação, inovação e criatividade" com mais de seis mil metros quadrados.

"Temos um espaço de escritórios para empresas que queiram fazer parte deste ecossistema, auditórios e instalações desportivas que podem ser usadas por estes profissionais depois do horário escolar e aos fins de semana. Um campus 'morre' depois das 18h00 e esta é outra forma de promover a sustentabilidade: dar aos mesmos espaços utilizações diferentes para comunidades diferentes".

Para as empresas, esta será uma oportunidade de oferecer aos seus colaboradores "um campus estilo Google" sem ter de fazer esse investimento. Por outro lado, essas mesmas empresas "terão a responsabilidade de contribuir para a educação das nossas crianças, seja porque desenvolvem projetos, seja porque organizem talks, por exemplo".

Como é que Chitra consegue gerir tantos projetos ao mesmo tempo? "Criando equipas incríveis. Precisas de garantir que estes projetos existem sem dar cabo do CEO". 

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