Com temperaturas a rondar os 30 graus, tanto na praia de São Pedro do Estoril, como na vizinha das Avencas, a afluência de banhistas superava aquilo que poderia ser o desejável tendo em conta as recomendações do Governo no acesso às praias em tempo de pandemia.
A distância física entre os utentes deve ser de 1,5 metros e entre chapéus de sol, toldos ou colmos de três metros, mas não foi o cenário a que a reportagem da agência Lusa assistiu ao início da tarde de hoje, durante a maré-cheia o areal transforma as praias que ficam ainda mais pequenas.
Apesar de o Governo ter marcado a abertura do período balnear para 06 de junho, pode ir-se à praia, após a resolução do Conselho de Ministros que prorroga a declaração da situação de calamidade, no âmbito da pandemia da doença covid-19, datada de dia 17 de maio.
Hoje, o areal estava repleto e podiam ver-se famílias a passear à beira mar, banhistas a partilhar uma garrafa de cerveja, grupos de amigos a que se iam juntado outros que chegavam à praia e até cães a brincar no parco areal.
Alguns ainda tentavam o distanciamento, mas tendo em conta o espaço disponível ficava difícil o panorama não ser de ficar quase em cima da toalha vizinha.
José encontrava-se sentado no muro a contemplar o mar na praia de São Pedro do Estoril e a horda de surfistas em grupo à espera de apanhar a melhor onda. Disse à Lusa que ao fim de semana não desce ao areal, a praia “é pequenita”, reconheceu.
“Venho várias vezes, moro aqui perto. [Hoje] venho dar um passeio, mas não vou mergulhar, por enquanto ainda não, hoje não. Ao fim de semana não gosto de ir para a água”, explicou, e olhando para a praia, acrescentou que quando a maré está cheia, como era o caso, “pouco espaço há”.
Pedro Hubert falou já à saída da praia, enquanto a família ia sacudindo a areia, e disse que hoje não foi o seu primeiro dia, explicando que o facto de morar perto lhe dá a possibilidade de poder escapar até à praia.
“Já tenho vindo algumas vezes dar um mergulho, para arejar um bocadinho. Até agora penso que as pessoas se têm comportado bem, têm respeitado, mesmo nos outros dias”, afirmou, avançando que se as pessoas ficarem “uma hora ou duas e derem lugar a outras, as coisas correm bem”.
O banhista reconhece que, até ao momento, se tem sentido “em segurança” nas visitas à praia, apesar de as pessoas se puderem cruzar mais em certas zonas, como no acesso, onde normalmente coloca a máscara.
“Por enquanto tem havido respeito, com o aumento do calor não sei, mas convém continuar a ter cuidado”, aconselhou.
Paulo Mendes veio hoje pela segunda vez à praia e reconheceu à Lusa que tinha “algum receio por aquilo que via nas notícias”, frisando que “se continuar assim não está mal”.
“Quando ontem [sexta-feira]vim surpreendi-me pela positiva, a maior parte das pessoas está a respeitar, claro que há exceções, mas há os que têm a sensibilidade de respeitar as distâncias e até usar máscara”, contou, avançando que se alguém se aproximar sem mascara é ele o primeiro a afastar-se.
“Estou atento”, reconheceu, explicando que tentar ter esse cuidado, e hoje, quando a maré começou a encher e as pessoas viram que o espaço começou a ficar apertado afastaram-se e saíram da praia.
Sancho de Mascarenhas observa o areal da praia das Avencas antes de descer as escadas. Admitiu que a praia que normalmente frequenta na época balnear pode este ano não ser a ideal.
“A praia é pequenina para as condições que estão a impor não é a melhor, mas para mim já é tradição, venho na mesma, se achar que está demasiado cheia não fico, mas sim em termos de dimensão é pequena e não é a melhor para a altura”, explicou.
Teresa Alves usa o acesso da praia das Avencas para descer até ao lado esquerdo da praia, que dá acesso à zona de pedras. Referiu à Lusa que anda mas um pouco para ficar nas rochas da Parede já que é uma zona que não é muito frequentada,.
“Estou mais à vontade, há menos agrupamento de pessoas. Não vão para lá crianças, nem pessoas muito idosas. Estou lá um bocado, enquanto me sito bem, serve-me de terapia”, disse, reconhecendo que quando começam a chegar mais pessoas se vai embora.
Com esta é a terceira vez que vem à praia, e o dia em que ficou mais tempo, acrescentando, também que foi o dia em que encontrou mais pessoas “em grupo e misturadas umas com as outras”.
Na Póvoa de Varzim, as dificuldades de distanciamento também persistem
As praias da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, estão a registar um aumento de frequência gradual, mas ainda nem todos os banhistas, sobretudo os mais jovens, estão adaptados às regras de distanciamento social.
Hoje, apesar do tradicional vento norte retirar alguma da agradabilidade de um dia de praia, a agência Lusa verificou que vários grupos de pessoas usufruíam dos areais, mas também das esplanadas dos bares e dos passeios da marginal da cidade, numa frequência que os habitantes e comerciantes locais consideram que está a aumentar.
"Sentimos que as pessoas querem sair de casa depois de tanto tempo fechadas, e mesmo estando um dia com vento, os fins de semana na Póvoa têm sempre muita gente na marginal, não só habitantes locais, com também visitantes dos concelhos vizinhos do interior", explicou, à agência Lusa, António Augusto, concessionário de praia e proprietário de um bar.
O empresário garante que no seu estabelecimento, onde é obrigatória a entrada com máscara, "foram feitos investimentos em produtos de higienização para que os clientes se sintam mais seguros", mas considera que só com o "bom senso" será possível cumprir as normas.
"Temos gel desinfetante em todo bar e reforçamos a higienização, nomeadamente nas casas de banho, mas são os clientes que têm de compreender esse esforço que fizemos e cumprir a normas. Só assim poderemos continuar a servir e manter o negócio", acrescentou António Augusto.
Na generalidade, as medidas impostas têm sido seguidas pela população, mas há quem note que ainda subsiste algum receio na retoma das atividades tradicionais do verão na Póvoa de Varzim.
"Durante a semana ainda vejo pouco gente na praia, mas aos sábados e domingos já se nota um aumento gradual, sobretudo com pessoas de fora da cidade. Vejo que ainda há medos, mas acho que isso vai passar quando o calor aumentar", partilhou Alberto Castro, natural da Póvoa de Varzim, e utilizador frequente da praia.
O poveiro explicou que, aos fins de semana, "a marginal está cortada ao trânsito e a polícia municipal faz rondas frequentes e deixar avisos", considerando que tal "tem ajudado na sensibilização".
"Tem havido algum cuidado das pessoas em manterem um distanciamento na praia e já vi as autoridades a intervirem em alguns casos, mas acho que quando vier o verão vai ser bem mais complicado de controlar", explicou Alberto Castro.
A mesma opinião partilhou Alexandre Galiza, nadador salvador, que hoje teve o primeiro dia de vigilância das praias este ano, no âmbito do projeto "AquaVida", promovido pela associação Os Delfins, com as autarquias da Póvoa de Varzim e Vila do Conde.
"A generalidade das pessoas tem cumprido as regras, mas preocupa-me os mais os jovens. Têm-se juntado em grandes grupos, e sem grandes cuidados no uso de máscara ou no distanciamento", partilhou o nadador salvador.
Alexandre Galiza lembrou que "a grande missão dos nadadores salvadores é a segurança das pessoas em relação ao mar" e, mesmo admitindo que "haja uma colaboração com as autoridades marítimas para prevenir os ajuntamentos", considerou que "tal será difícil de controlar".
"Noto que as pessoas estavam ansiosas por voltar ao exterior e vão sair cada vez mais. Pessoalmente, acho um erro a época balnear começar tão tarde, porque vamos ter mais um mês em que as praias vão ter muita gente, mas sem a fiscalização, vigilância e até limpeza, que normalmente existem neste período", partilhou o nadador salvador.
A época balnear na Póvoa de Varzim só irá iniciar-se a 27 de junho, quando habitualmente começava a 15 de junho, e a Câmara Municipal local está já preparar com as autoridades, concessionários e empresários, várias normas a aplicar.
A marginal da cidade e todos os parques de estacionamento junto às praias, estão, por enquanto, encerrados para diminuir a carga automóvel.
Brevemente, serão colocados dispensadores de gel à entrada das praias, e será reforçada a desinfeção das ruas. Serão, ainda, tomadas medidas para promover o total aproveitamento de toda a extensão do areal, de forma ampliar a capacidade distanciamento entre os utilizadores da praia.
O acesso às praias
De acordo com o plano de desconfinamento e durante a época balnear, na utilização do areal das praias estão "interditas atividades desportivas com duas ou mais pessoas, exceto atividades náuticas, aulas de surf e desportos similares".
Na quinta-feira, o ministro do Ambiente garantiu que “o acesso à praia é livre” e que o sinal vermelho, que poderá ser colocado, é um aviso, mas não impede a entrada de pessoas, embora o “incumprimento reiterado” possa levar ao encerramento.
No 'briefing' do Conselho de Ministros, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, foi questionado sobre as regras do acesso às praias devido à pandemia de covid-19 na época balnear.
O que ficará claro no decreto-lei que ainda não foi publicado, de acordo com Matos Fernandes, é que “no caso de haver um incumprimento reiterado”, ou seja, “um, dois, três dias seguidos” em que a lotação da própria praia é ultrapassada, “por razões apenas de saúde pública, essa praia poderá ser encerrada”.
O ministro insistiu, por diversas vezes, que “o acesso à praia é livre”, mas “tem de ser feito com segurança.
“O risco de contágio numa praia é igual ao de qualquer outro local no espaço público. Não há nenhum risco acrescido”, apontou.
Portugal contabiliza 1.302 mortos associados à covid-19 em 30.471 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.
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