“É uma honra magnífica, principalmente porque significa que sigo nas pegadas dos maiores autores que alguma vez viveram”, afirmou Ishiguro à BBC, ressalvando que o comité do prémio Nobel não o contactou e, como tal, começou por pensar que se tratava de uma partida.
O escritor disse ter a esperança de que o Nobel seja uma força do bem: “O mundo está num momento muito incerto e esperaria que todos os prémios Nobel fossem uma força em prol de algo positivo no mundo”.
“Ficaria profundamente comovido se pudesse, de algum modo, ser parte de um tipo de clima, este ano, que contribua para uma atmosfera positiva num tempo muito incerto”, afirmou o escritor de “Os Despojos do Dia”.
O prémio Nobel da Literatura 2017 foi atribuído ao britânico Kazuo Ishiguro, anunciou hoje a Academia Sueca.
A Academia justificou a escolha de Kazuo Ishiguro, por ser um escritor que, "em romances de grande força emocional, revelou o abismo sob o sentido ilusório de conexão com o mundo".
O escritor britânico de origem japonesa nasceu em Nagasaki, Japão, fixando-se com a família, no Reino Unido, no início da década de 1960. Destacou-se com os primeiros contos, publicados na revista Granta, escreveu para cinema e televisão, é autor de canções. Com "Os Despojos do Dia" venceu o Booker Prize, em 1989.
Pediu segundo referendo do ‘Brexit’ que unisse o Reino Unido
O escritor defendeu, em 2016, um segundo referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia que unisse o país em volta dos seus “instintos humanos”.
Num ensaio publicado pelo Financial Times no dia 01 de julho do ano passado, uma semana depois do referendo que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia, Ishiguro escreveu ser fundamental a aceitação do resultado, restando então um encontro em torno de uma opção ‘Brexit light’: “Uma versão que continue a permitir o livre movimento de pessoas em troca por acesso continuado ao mercado único”.
“Precisamos de um segundo referendo – não para repetir o primeiro, mas para definir o mandato que advém do desfocado resultado do da semana passada. (…) Este segundo debate terá de ser aberta e claramente sobre a troca entre o pôr fim à imigração da União Europeia e o acesso ao mercado único. Será um debate em que aqueles que defenderam e votaram ‘Sair’ por razões não-racistas terão a oportunidade para se colocar do lado oposto aos que o fizeram”, declarou o escritor britânico nascido no Japão.
Numa altura em que considerou ser mais importante do que nunca permanecer calmo, Ishiguro reconheceu que, se fosse um estratega da extrema-direita, estaria a esfregar as mãos de contentamento: “Nunca antes houve uma tão boa oportunidade, pelo menos desde os anos 1930, para empurrar a Pequena Inglaterra para dentro do racismo neo-Nazi”.
“Acredito que precisamos de ter alguma fé no povo da Grã-Bretanha. Mesmo depois do choque do resultado da passada sexta-feira, ainda mantenho essa fé. Falo como um homem de 62 anos, de nascimento japonês, que viveu aqui desde os cinco anos, que tem observado e experienciado esta sociedade da perspetiva de uma criança pequena e visivelmente estrangeira que, durante anos, foi a única criança assim na sua escola ou comunidade alargada”, afirmou o escritor.
Aquele país, descreveu Ishiguro, é um lugar “decente e justo, disponível para mostrar compaixão a forasteiros em necessidade, resistente aos agitadores do ódio seja de que extremo político forem – tal como foi na primeira metade do século XX, quando o fascismo atravessou a Europa”.
Por todas essas razões, Ishiguro defendeu o segundo referendo, por uma decisão ‘Brexit light’ que unisse o Reino Unido em volta dos seus “instintos humanos tradicionais” e para “isolar os racistas que hoje se iludem ao acreditar que conseguiram o país do país”.
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