A Nova Caledónia está em convulsão e esta é a história sobre a ligação do território da Oceânia à França e das razões para os protestos dos últimos dias.
Onde fica a Nova Caledónia?
A Nova Caledónia fica na Oceânia, está situada entre a Austrália e as Ilhas Fiji, e tem um população de 270 mil pessoas.
É um território independente?
Não. Apesar de separados por 16.500 km, a verdade é que a Nova Caledónia é 'pertença' da França.
E porque não é independente?
Essencialmente devido ao facto de a maioria da população ser descendente de franceses, que querem continuar a fazer parte de França.
Mas há 40% que quer a independência e esses são o povo Kanak, um grupo étnico da melanésios da Nova Caledónia.
Desde o século passado que já fizeram várias tentativas – fracassadas – para a independência. As Nações Unidas também chegaram a apoiar esta ideia, mas em 1986 a Assembleia Geral da ONU reinscreveu a Nova Caledónia na lista de "territórios não autónomos".
A restante população, essa, tem-se mantido fiel a França, essencialmente por questões económicas. São muitos os milhões que este país europeu investe na Nova Caledónia todos os anos.
Já foram realizados três referendos à emancipação do território, nomeadamente em 2018, 2020 e 2021. O não venceu sempre com maioria, 56.67% em 2018, 53.26% em 2020 e 96,5% em 2021.
E qual o interesse de França?
Além da história - em 1853, sob o comando de Napoleão III, a França tomou posse formal da ilha -, há interesses também económicos. A Nova Caledónia é o terceiro produtor mundial de níquel e representa 90% das exportações do território, sendo que a extração de cobre é outro fator de investimento francês.
Em 2021, de acordo com os especialistas, 190 mil toneladas de níquel foram extraídas do território. No mundo, somente a Indonésia, as Filipinas e a Rússia produziram mais.
E o que levou a esta convulsão?
Foi tudo devido a um projeto de lei constitucional aprovado em França que irá conferir, a partir de 1 de julho, o direito ao voto aos franceses nascidos no território ou aí residentes há pelo menos dez anos.
De acordo com o povo Kanak, esta decisão irá contribuir ainda mais para que a independência seja praticamente impossível nos próximos anos.
Em declarações à Reuters, Dominique Fochi, secretário-geral da União Caledónia, braço do partido pró-independência Frente de Libertação Nacional Kanak e Socialista, lançou duras críticas ao Governo de Emannuel Macron. “Falámos para a parede e agora as coisas explodiram. Estes acontecimentos poderiam ter sido evitados se o Governo francês tivesse dado ouvidos”, disse.
Macron, refira-se, ainda não assinou a lei, pelo que os protestos serão uma tentativa de dissuadir o presidente de dar prosseguimento com a reforma.
Por exemplo, os presidentes de três outros territórios ultramarinos franceses (Reunião, Martinica e Guiana) assinaram uma petição, juntamente com 16 deputados e senadores e um deputado europeu desses círculos eleitorais, para solicitar ao Governo de Paris que "retirasse imediatamente" o projeto de reforma.
O que tem acontecido desde a semana passada?
Foram vários os motins até ao momento, por parte de separatistas, e desde a semana passada já morreram seis pessoas (três kanak), há centenas de feridos e já foram detidas mais de 200 pessoas.
A França decretou mesmo o estado de emergência no território, desde a última quarta-feira, reforçando a ilha com mais mil agentes, para “assegurar a proteção da população e restabelecer a ordem pública”.
De registar que o Governo francês 'desligou' a rede social Tik Tok, na Nova Caledónia, alegadamente por ser através da qual eram marcadas as manifestações.
Qual o papel da China, Rússia e Azerbaijão nisto tudo?
O Ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, declarou que o Azerbaijão, juntamente com a China e a Rússia, está a interferir nos assuntos internos da Nova Caledónia. "Isto não é uma fantasia. É uma realidade", disse Darmanin ao canal de televisão France 2, sublinhando a gravidade das alegações.
O Governo francês aponta o aparecimento de bandeiras do Azerbaijão nas manifestações independentistas de Kanak e o apoio de grupos ligados a Baku aos separatistas.
Refira-se que em 2023 foi criado no Azerbaijão o Grupo Iniciativa de Baku, que inclui participantes de vários territórios franceses que procuram a independência e tem como objetivo apoiar movimentos anti-coloniais contra a França.
O grupo manifestou a sua solidariedade com o povo Kanak e condenou as recentes reformas eleitorais na Nova Caledónia. "Somos solidários com os nossos amigos Kanak e apoiamos a sua luta justa", declarou.
O que estão a fazer outros países?
Alguns, como a Austrália e a Nova Zelândia pretendem enviar aviões para evacuar cidadãos do território francês.
No início da semana, cerca de 3.200 pessoas estavam à espera para sair ou entrar na Nova Caledónia, já que os voos comerciais foram cancelados devido aos distúrbios que eclodiram na semana passada, disse o governo local.
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