O novo plano substituirá o antigo Plano de Ação Contra a Mutilação Genital Feminina (MGF), que termina este ano, e visa combater os casamentos forçados e precoces e também a MGF.
“Este plano da ação especifico vai passar a integrar outros crimes contra raparigas e mulheres que estão integrados naquilo que as Nações Unidas chamam "práticas nefastas", nomeadamente os casamentos forçados e precoces”, disse a secretária de Estado em declarações à Lusa.
A MGF é efetuada maioritariamente em meninas entre os 0 e os 15 anos e consiste na remoção, parcial ou total, dos órgãos genitais femininos, por razões não médicas, associadas a rituais ou tradições inseridas em comunidades onde a prática é comum.
O Plano de Ação Contra a MGF tem tido “um grande enfoque no que diz respeito ao trabalho com a saúde”, o que permitiu a criação de um sistema de referenciação, em que os profissionais de saúde referenciam situações de MGF quando as detetam.
Em 2016, este sistema de referenciação levou à deteção de 80 casos de MGF em Portugal.
Segundo Catarina Marcelino, o novo Plano de Ação, Práticas Nefastas, pretende focar-se mais no trabalho com as comunidades e com os líderes religiosos.
“Quando há uma implicação maior das comunidades, homens e mulheres, e também dos líderes religiosos a prática diminui”, sublinhou a secretária de Estado.
Este plano tem também como objetivo “investir mais nas escolas que estão nas comunidades” onde existem estas práticas, aumentando a formação dos professores e das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) e também dos profissionais de saúde dessas zonas.
A responsável referiu que em Portugal “hoje não há uma prática de MGF” mas que as meninas costumam ser levadas para o país de origem para serem submetidas a MGF, em alturas como as férias de verão e da Páscoa.
Em Portugal, desde 2015 que a Mutilação Genital Feminina é considerada um crime público.
Catarina Marcelino acrescentou que, em Portugal, as práticas nefastas estão “reduzidas a grupos específicos” porque são “trazidas por outras comunidades” mas não deixam de ser uma responsabilidade do país.
“Vão contra tudo o que é a violação de direitos humanos, vão contra a nossa constituição e a nossa lei”, sublinhou.
Em todo o mundo, 200 milhões de raparigas sofreram MGF e estima-se que, até 2030, mais 15 milhões possam vir a ser vítimas.
Em relação aos casamentos precoces e forçados, todos os dias casam mais de 41 mil raparigas abaixo dos 18 anos.
“Eu acredito que se todos os países fizerem a sua parte, nós em 2030 conseguiremos erradicar a MGF no mundo”, finalizou a secretária de Estado.
No dia internacional da rapariga, que se assinala hoje, a Associação Mulheres sem Fronteiras organizou a conferência internacional "Meninas e raparigas entre direitos e tradições: a excisão e outras práticas nefastas", que contou com a presença da secretária de Estado na sessão de encerramento.
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