Em várias entrevistas publicadas hoje nos jornais La Tribune e Le Journal du Dimanche, citadas pela agência Efe, Barnier tenta dar uma imagem de abertura e de atenção aos franceses desinteressado da política, que “estão fartos que tudo venha decidido de cima”.

“Eu venho de baixo, não há nenhuma ambiguidade sobre essa questão”, sublinhou, referindo-se ao facto de a sua mãe ser uma “militante associativa” e de o seu pai ter sido um “pequeno empresário”.

Ainda que não detalhe concretamente o seu programa político nestas entrevistas, afirma que tem intenção de encarnar “uma esperança para França” e “elevar a linha do horizonte individual e coletivo para França”.

Sobre qual será a sua relação com o presidente Emmanuel Macron, que o elegeu para formar Governo, o primeiro-ministro assegura que não lhe assinalou qual terá de ser o seu programa.

“O presidente deixou as coisas claras comigo. Dá-me liberdade para formar Governo e definir a minha linha política. Tenho uma grande liberdade”, assinalou.

Esta foi uma resposta a quem, sobretudo à esquerda, considera que Macron optou por este veterano político (73 anos) membro do partido Os Republicanos (que obteve 6% nas eleições antecipadas de junho e julho) porque irá seguir políticas de continuidade.

As críticas são também recusadas pelo Palácio do Eliseu, que sustenta que Macron se guiou unicamente pelo imperativo constitucional de procurar um primeiro-ministro que garantisse estabilidade política, ou seja, uma pessoa não suscetível de ser rejeitada rapidamente por uma moção de censura.

Michel Barnier continua hoje com consultas e entrevistas para formar o seu Governo, nomeadamente com Édouard Phillipe, primeiro-ministro de Macron entre maio de 2017 e julho de 2020.

Quando formar o seu Governo, um dos primeiros desafios será a elaboração do Orçamento do Estado para 2025, antes de 01 de outubro, num contexto de grande dificuldade pelo aumento do défice público a níveis preocupantes.

A Comissão Europeia abriu, no final de julho, um Procedimento por Défice Excessivo a França, após Paris ter superado os 5,5% de défice, e a tendência será continuar, a menos que haja cortes ou aumentos de impostos.

O presidente do Tribunal de Contas francês, o antigo comissário europeu Pierre Moscovici, pediu hoje ao primeiro-ministro que atue “de maneira rápida e decisiva contra o défice”, porque “se nada mudar, França chegará este ano a um défice de 5,6% do PIB, em vez do 5,1% previsto, e a 6,2% em 2025”.

O Ministério das Finanças já pediu a Bruxelas um prazo adicional para apresentar um programa de redução do défice, que deverá ter de enviar até 20 de setembro.