"Já temos seis corpos encontrados, continuamos com duas pessoas desaparecidas. Aumentámos o número de operacionais para 84 e 29 viaturas", revelou.
De acordo com Jorge Gomes, o número de entidades no terreno subiu para nove e o perímetro de buscas foi alargado, para ver se conseguem encontrar as duas pessoas que ainda estão desaparecidas.
"Neste momento, aumentámos o perímetro de busca, atendendo que o corpo [da sexta vítima mortal] foi encontrado a uma distância muito grande, que ultrapassa os 200 metros", revelou.
O perímetro de buscas é atualmente de 800 metros, com possibilidade de vir ainda a ser aumentando, se assim se justificar.
"Foi uma explosão de uma dimensão incalculável e não temos um perímetro que possamos definir, é tudo muito incerto. Vamos pesquisar e procurar, as autoridades estão muito empenhadas em tentar encontrar, seja em que diâmetro for", justificou.
Aos jornalistas, o secretário de Estado da Administração Interna disse ainda que a Medicina Legal de Coimbra e do Porto está no local "a trabalhar na identificação dos corpos".
"Esperamos, a todo o momento, que isso possa trazer algumas respostas para as famílias e também para podermos, logo que haja autorização, levantar os corpos que foram encontrados, pois é importante devolvê-los às famílias", sublinhou.
Seis pessoas morreram e duas continuam desaparecidas na sequência deste acidente.
A explosão ocorreu cerca das 17:50 e deixou destruída uma fábrica de pirotecnia em Avões, a escassos quilómetros de Lamego.
No local, estão a delegada do Procurador da República de Vila Real, a GNR, a PJ, o INEM, os bombeiros, a Autoridade Nacional de Proteção Civil, a PSP, o Instituto de Medicina Legal do Porto e a delegada de saúde.
O acidente que “não podia ter acontecido”
O presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Pirotecnia e Explosivos (APIPE), explicou que a fábrica cumpria todas as leis.
“Do nosso conhecimento, todas as fábricas estão a cumprir a lei até porque recentemente, nos últimos 12, 13, 14, 15 anos, foram encerradas muitas fábricas porque não cumpriam a lei, as que restam estão obviamente a cumprir a lei”, explicou Carlos Macedo em declarações à Lusa.
De acordo com o presidente da APIPE, a legislação que regula a segurança nas instalações das fábricas e armazéns é “relativamente recente para o comum das leis”, avançando que o último diploma que saiu [decreto-lei 139/2002] e que restringiu as regras de segurança na área da laboração “colocou em remodelação todas as empresas de pirotecnia e explosivos”.
Segundo o responsável, o acidente que aconteceu “não podia ter acontecido” e é “inexplicável”, afirmando que agora só a investigação irá explicar o que sucedeu porque “aparentemente vitimou todas as pessoas que lá estavam”, algo que não acontecia nos últimos anos já que os mais recentes acidentes, “que são sempre dramáticos, apenas fizeram uma vítima”.
Carlos Macedo lembrou ainda que a fiscalização às 32 fábricas de pirotecnia que existem no país, sobretudo na região norte, é, “além de frequente, muito rigorosa”, explicando que o departamento de armas e explosivos da PSP tem a seu cargo a fiscalização e controlo de atividade de pirotecnia e explosivos em Portugal, com um acompanhamento “muito permanente e regular das instalações com vistorias ao local amiúde”.
Descreveu ser “demasiado complexo”, o processo de licenciamento deste tipo de fábrica, adiantando que “em nada prejudicaria a segurança se fosse mais célere”, considerando que envolve muitas autoridades, desde as camarárias, à Direção Nacional da PSP e à Agência Portuguesa do Ambiente.
“São processos que normalmente demoram vários anos a ser constituídos. Tudo o que sejam matérias perigosas, quer seja pela via do ambiente, quer pela via da segurança de explosivos, é controlado através das respetivas entidades”, frisou.
Carlos Macedo reconheceu ainda que qualquer instalação deste género tem uma lotação que é atribuída em função da zona e raio de segurança: “quer dizer que quando o raio de segurança é maior, as instalações têm mais quantidade de produto, quando o raio de segurança é menor, a lei impõe uma menor quantidade de produto explosivo ou matéria perigosa”.
A família que geria a fábrica era conhecida na região
O proprietário da fábrica de pirotecnia de Avões, em Lamego, e os seus familiares, eram muito conhecidos na região por abastecerem grande parte das festas do Norte do país, segundo alguns habitantes locais.
Em Ferreiros de Avões, onde o ‘fogueteiro' vivia há quase década e meia, toda a gente conhecia "o negócio próspero" que o senhor Egas tinha comprado no Lugar de Guediche e que acabou por fazer com que se mudasse de Baião para a zona, com toda a sua família.
Cinco pessoas morreram e três continuam desaparecidas em Avões, Lamego, na sequência de várias explosões numa fábrica de pirotecnia, na terça-feira.
"Vivem cá em Ferreiros há mais de 10 anos, se calhar já há perto de 15 anos, depois de terem comprado a fábrica dos foguetes. Eram conhecidos aí em toda a região, pois eram eles que abasteciam tudo o que era festas", referiu Rogério Esteves.
Dono de um café frequentado pelo senhor Egas e pelos seus três genros, Rogério Esteves revelou que a Pirotecnia Egas Sequeira era o sustento de quase toda a família direta.
"Eram eles a mão-de-obra ao longo de quase todo o ano, mas depois, nas alturas que tinham mais trabalho, por ser época de festas, lá metiam mais uma ou duas pessoas a trabalhar. Tinham mesmo muito trabalho, o senhor Egas nos últimos dias até dizia que nem vinha ao café porque não tinham tempo", explicou.
À Lusa, Rogério Esteves explicou que trabalhavam na fábrica de pirotecnia o proprietário, a mulher, as três filhas, os três genros e uma sobrinha.
"Era um negócio da família, só a filha mais velha é que não trabalhava lá todos os dias, pois ficava mais por casa a tomar conta dos filhos e dos sobrinhos. Também o filho deixou de lá trabalhar quando se casou", acrescentou.
A proprietária do outro café da aldeia, Élia Araújo, realça que esta era uma família muito unida e não apenas no negócio.
"Viviam bem, isso notava-se e davam-se bem. O negócio corria bem, porque ele fazia as festas quase todas do concelho, mas também desta região Norte ", apontou.
Já Maria Miquelina Teixeira lamentou que a morte tenha chegado a esta família precisamente quando trabalhavam.
"Nem sei como vai ser, coitados. Eram pessoas de muito trabalho e não é justa uma tragédia destas, logo com tanta gente da mesma família", concluiu.
Três dias de Luto
A Câmara de Lamego anunciou hoje ter decretado três dias de luto municipal pela morte de seis pessoas em explosões que ocorreram na terça-feira numa fábrica de pirotecnia, em Avões, naquele concelho.
[Notícia atualizada às 13:00]
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