O líder da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) foi reeleito à primeira volta para um segundo mandato, com 73% dos votos, e o seu partido teve uma maioria superior a dois terços do parlamento.
Os resultados foram contestados pela oposição e vários observadores apontam irregularidades, mas o líder da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) assume agora um mandato reforçado, apesar da crise económica e dos problemas financeiros do país.
Nyusi chegou à Presidência da República com as credenciais de engenheiro - que levou, como presidente do clube, o modesto Ferroviário de Nampula a campeão nacional de futebol moçambicano -, e com uma passagem fugaz pelo cargo de ministro da Defesa, sob a presidência de Armando Guebuza.
O seu Governo teve de lidar com uma rebelião militar movida pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), devido a diferendos sobre os resultados eleitorais de 2014, e com o corte de ajuda financeira ao Orçamento do Estado (OE), na sequência do caso das dívidas ocultas do Estado.
"Farei de tudo para que o país tenha paz", disse, amiúde, expondo-se a situações vistas como "contranatura" no seu partido, como quando foi procurar o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, nas matas da Gorongosa para conversar sobre a paz, em 2017.
Para evitar que a aproximação fosse torpedeada por membros radicais da Frelimo, a deslocação à Gorongosa foi ultrassecreta e só foi comunicada a alguns jornalistas no dia em que aconteceu.
No plano internacional, entendeu rapidamente que tinha de começar a ouvir o Fundo Monetário Internacional (FMI), para que o país saísse da situação de quase "pária" a que foi votado nos mercados internacionais pelo incumprimento perante credores das dívidas não declaradas.
Sempre destacou o facto de o seu Governo conseguir pagar salários mensalmente perante uma situação difícil de "sanções e de crise" impostas pelos doadores e pela conjuntura.
Lembrando um estilo muito peculiar do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, Filipe Nyusi não se coíbe de dirigir reprimendas públicas a figuras do Estado moçambicano.
O caráter intempestivo de Nyusi já se tinha revelado em autênticas provas orais a que submete publicamente dirigentes distritais sobre dados de governação local nas visitas presidenciais que realiza pelo país.
Amante e conhecedor da Matemática por força da sua formação de engenheiro e professor na Universidade Pedagógica, as perguntas sobre estatísticas e números que Filipe Nyusi levanta costumam causar autêntico pavor aos funcionários do Estado.
O "bailarino", como é também tratado em círculos mais próximos, por ser um amante da dança, é ainda conhecido pelo relativo desapego ao protocolo do Estado.
No início do mandato, sentou-se várias vezes no chão com crianças em salas de aulas sem carteira para se solidarizar com os alunos que estudam sem grandes condições, dando depois algumas lições de Matemática.
Participou nalgumas partidas de futebol de caráter recreativo pela equipa do Governo e fez alguns minutos em jogos inaugurais de campeonatos escolares.
Descrito como um homem de família, brincalhão e de sorriso fácil, Filipe Nyusi, 55 anos, nasceu em Namua, distrito de Mueda, província de Cabo Delgado, é casado e pai de quatro filhos.
Presidente de Moçambique empossado hoje para segundo mandato
Filipe Nyusi é empossado hoje como Presidente de Moçambique, três meses depois de ter sido eleito para um segundo mandato, numa cerimónia em Maputo em que são esperados três mil convidados, incluindo o chefe de Estado português.
A cerimónia solene de investidura vai decorrer na Praça da Independência, na capital moçambicana, às 10:00 locais (08:00 em Lisboa).
O Governo moçambicano prevê a presença de três mil convidados na cerimónia de tomada de posse, contando com a participação dos cidadãos.
Entre os presentes estará o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, que iniciou na segunda-feira uma visita de cinco dias a Moçambique.
Está também prevista a presença do Presidente de Cabo Verde, que atualmente detém a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Jorge Carlos Fonseca, bem como do secretário-executivo da organização, o português Francisco Ribeiro Telles.
O Governo chinês vai enviar à cerimónia Cai Dafeng, enviado especial do Presidente Xi Jinping.
Depois da cerimónia de posse, os chefes de Estado e de Governo e outros convidados participam num almoço no Palácio da Ponte Vermelha.
Na terça-feira, o Presidente exonerou todos os membros do Governo, vice-ministros, conselheiros presidenciais e o seu adido de imprensa, um dia antes de tomar posse para um segundo mandato, em cumprimento de uma formalidade constitucional.
Após a investidura, Filipe Nyusi deve formar um novo executivo.
Em Moçambique, o chefe de Estado é também chefe do Governo, por imperativos constitucionais derivados do regime presidencialista em vigor.
Os resultados eleitorais do escrutínio de 15 de outubro em Moçambique deram larga vantagem à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, cujo candidato, Filipe Nyusi, foi reeleito à primeira volta para um segundo mandato como chefe de Estado, com 73% dos votos.
Em segundo lugar ficou Ossufo Momade, candidato da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), com 21,88%, e em terceiro Daviz Simango, líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), com 4,38%.
Para o parlamento, a Frelimo conseguiu eleger 184 dos 250 deputados, ou seja, 73,6% dos lugares, cabendo 60 (24%) à Renamo e seis assentos (2,4%) ao MDM, anunciou a Comissão Nacional de Eleições.
A Renamo, principal partido na oposição, e o MDM, terceira força parlamentar, não aceitam os resultados já promulgados pelo Conselho Constitucional, considerando que o escrutínio foi marcado por graves irregularidades.
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