Ao longo de um quarto de século, apesar do muito que se escreveu - até livros - e se disse nunca pareceu haver da parte do Governo português vontade para esclarecer o que levou o navio a afundar a 4 de dezembro de 1991, de acordo com informações na imprensa ao longo do tempo.
Há um ano foi o Bloco de Esquerda que voltou ao assunto, perguntando ao Governo, “ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis”, se estava disponível para proceder ao desafundamento do navio “para que seja possível a averiguação de dados que justifiquem ou não a reabertura do processo”.
A resposta do Governo à pergunta não foi conhecida e questionado pela Lusa o partido também não deu qualquer esclarecimento em tempo útil.
O processo há muito que foi arquivado pelo Tribunal de Instrução Criminal que ditou a sentença: acidente de causas naturais.
O Bloco e nomeadamente famílias das vítimas consideram que, no entanto, ainda há muito por esclarecer sobre o que realmente aconteceu.
A 130 metros de profundidade entre o cabo Raso e o cabo Espichel
O desastre (não houve pedido de ajuda) provocou a morte de 30 pessoas, mas nem mesmo assim houve um esforço sério para perceber o que se passou nesse dia. O navio foi localizado dois meses depois pela Marinha a 130 metros de profundidade entre o cabo Raso e o cabo Espichel, e apesar de repetidos pedidos para que fosse trazido à superfície e se tentasse apurar as causas do afundamento tal nunca aconteceu.
De concreto apenas se sabe que o navio pesqueiro se afundou pouco depois de sair da barra do rio Tejo numa viagem para testar um novo sistema de recolha de redes. Das 30 pessoas que estavam a bordo apenas foram recuperados os corpos de oito.
Imagens recolhidas no local mostraram um buraco no casco do navio que teria sido feito já depois do naufrágio, segundo familiares das vítimas.
Ao longo dos 25 anos o assunto foi esmorecendo, mas nunca deixou de se aventar a hipótese de o navio transportar algo de valioso e que por isso teria sido propositadamente mandado ao fundo. O sindicalista Joaquim Piló (era presidente do Sindicato Livre dos Pescadores) admitia que o Bolama transportava ou armas ou urânio.
Oficialmente a carga do navio eram eletrodomésticos , supostamente com destino à Guiné-Bissau. O navio pertencia a uma sociedade luso-guineense e na lista dos mortos contam-se 11 pescadores portugueses e nove guineenses. As restantes vítimas eram dois administradores e dois amigos, quatro metalúrgicos, um mecânico e um técnico de eletrónica.
“Apesar de nunca terem sido conhecidas as causas para este naufrágio, um dos mais mortíferos da história do nosso país, nunca houve qualquer esforço do Estado português para trazer à superfície o navio afundado”, diz o Bloco de Esquerda na pergunta ao Governo, lembrando as 15 toneladas de eletrodomésticos de carga oficial, que “o porão do arrastão não teria capacidade para equipamento desse volume”.
“A não ser que se tratasse de uma carga com muito grande densidade. Daí as teorias sobre suposta carga ilegal como armas ou urânio”, diz também o partido, que deixa ainda outras dúvidas: que causa natural podia ter levado ao naufrágio quando as condições meteorológicas e do mar eram boas? Que carga transportava realmente? Qual a explicação para o buraco oval e picotado abaixo da linha de água?
Tantos anos depois não há respostas e, como relembrou o Bloco de Esquerda, “as famílias das vítimas merecem o acesso à verdade”.
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