Oito homens vão responder perante um tribunal que julga crimes de guerra em Belgrado acusados de terem participado na matança de centenas de muçulmanos perto de Srebrenica. Esta matança ocorreu num único dia num armazém na cidade de Kravica e fez parte dos homicídios em massa no enclave de Srebrenica por parte de forças sérvias bósnias comandadas pelo general Ratko Mladic, que está a ser julgado por genocídio em Haia, no tribunal internacional para a antiga Jugoslávia.
Esta é a primeira vez que a Sérvia julga suspeitos de envolvimento no massacre de Srebrenica. O massacre é considerado genocídio por dois tribunais internacionais, mas a Sérvia rejeita essa classificação.
"Este é um caso muito importante, porque a Sérvia precisa de encarar o seu passado", disse à agência de notícias AFP o antigo procurador responsável pela investigação de crimes de guerra Vladimir Vukcevic.
Se forem considerados culpados, os oito homens podem ser condenados com penas até 20 anos de prisão. Este grupo fazia parte de uma unidade especial de polícia e alguns dos seus membros foram já condenados na Bósnia pela matança em Kravica. Todos os oito obtiveram cidadania sérvia após a guerra civil na Bósnia.
Mais de 100.000 pessoas morreram e 2,2 milhões foram obrigadas a fugir na guerra da Bósnia (1992-1995), o conflito mais sangrento resultante da partição da antiga Jugoslávia.
Ratko Mladic, de 74 anos, antigo comandante das forças sérvias-bósnias, está atualmente a ser julgado por genocídio, num processo que inclui o massacre de Srebrenica. Mladic foi detido em 2011, após 10 anos em fuga, e aguarda que o Tribunal Penal Internacional de Haia (TPII) emita uma sentença em 2017. A acusação pediu uma condenação à prisão perpétua.
O massacre de Srebrenica traduziu-se na execução de cerca de 7.800 homens e rapazes muçulmanos no enclave de Srebrenica, leste da Bósnia-Herzegovina, em julho de 1995. É o mais grave massacre na Europa desde a segunda guerra mundial e foi cometido por tropas sérvias bósnias a poucos meses do fim da guerra civil. As vítimas foram afastadas das mulheres e das crianças, enquanto a população tentava fugir do enclave de Srebrenica invadido pelas forças sérvias perante a passividade dos capacetes azuis holandeses que ali se encontravam com a missão de proteger o território .
Os oito homens agora acusados foram detidos em março de 2015 e formavam parte de uma unidade policial especial, a "Jahorina", nome de uma estação de esqui próxima a Sarajevo. São acusados de ter ordenado ou participado da execução em apenas um dia de centenas de muçulmanos bósnios, capturados numa floresta e executados num armazém em Kravica, perto de Srebrenica. Os membros da "Jahorina" abriram fogo com armas automáticas e lançaram granadas no interior do armazém, segundo a investigação. Os restos das vítimas foram encontrados em fossas comuns.
Entre os homens julgados em Belgrado está o comandante da brigada, Nedeljko Milidragovic, conhecido como "Nedjo, o talhante", de 58 anos. Segundo a ata de acusação, disse aos seus homens que "ninguém deveria sair vivo" do armazém. Milidragovic era talhante antes da guerra, segundo os meios de comunicação sérvios e, após o fim do conflito, instalou-se na Sérvia.
O julgamento começou com um pedido de recusa dos juízes apresentado pela defesa. A Sérvia recusa-se a considerar Srebrenica como um ato de genocídio, ao contrário do Tribunal Penal Internacional de Haia que condenou a 40 anos de prisão Radovan Karadzic, líder político dos sérvio-bósnios durante o conflito.
Esta notícia foi atualizada com mais informação às 13h26m.
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