Dois grandes desafios apresentam-se ao líder incontestado dos comunistas. Primeiro, convencer os mais céticos de que a posição conjunta que dá apoio ao Governo do Partido Socialista foi a melhor opção. Segundo, bater pé ao executivo de António Costa. Contraditório?
A convergência de esquerdas permitiu pôr fim a quatro anos de governação de direita, a coligação PSD/CDS caiu. O apoio do PCP ao Governo do Partido Socialista deu à bancada dos comunistas a possibilidade de ser ouvida de forma construtiva nos dois Orçamentos de Estado do executivo de António Costa, mas não tanto quanto era esperado.
Por isso, Jerónimo de Sousa tem vincado: “Esta não é o nosso Orçamento”. E de facto não é. Os comunistas conseguiram melhorias nas atualizações das pensões e das reformas - e fizeram questão de vincar esse seu contributo -, no sector público, em áreas como o aumento do subsídio de alimentação, na educação, com 370 mil crianças do 1º ciclo a terem acesso a manuais escolares gratuitos e em políticas familiares com um alargamento do abono de família para todos.
Estas foram algumas das principais medidas em que o PCP teve intervenção direta. Mas para Jerónimo soube a pouco. A política europeia, a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e a legalização das plataformas Uber e Cabify que concorrem com o setor os táxis ficaram ‘entalados’. Em entrevista ao Expresso, o secretário-geral comunista diz que não “engole sapos” e bate pé. Quer que medidas mais próximas da “política patriótica de esquerda” que o seu partido defende nas suas teses. Ao PÚBLICO mostrou-se mais desacreditado em relação ao atual Governo, afirmando que essa tão desejada política que devolverá rendimentos e direitos à classe trabalhadora só será possível pelo PCP, e pelo PCP só.
O Orçamento de Estado para o próximo ano aumentou a clivagem entre os socialistas e os comunistas. Daí que Jerónimo de Sousa tenha dito que o “caminho está cada vez mais estreito”. Inclusive afirma o secretário-geral que a posição conjunta foi “beliscada”. No final, este não é um orçamento do PCP, reitera. Mas tem as suas marcas. E são estas pequenas conquistas que têm marcado este primeiro ano de convergência de esquerdas. Agora chega a hora do debate: em 2019 manter-se-á o acordo? Há a possibilidade de o PCP integrar o Governo?
Depois chega a altura de ponderar: estaremos nós, Partido Comunista, a sair beneficiados ou prejudicados deste pacto?
As últimas sondagens, reveladas, mostram um crescimento de intenção de voto no Partido Socialista que o aproxima da maioria absoluta. Já os comunistas caem, 1%. Jerónimo desvaloriza e pede que os socialistas não se deixem embriagar com “sondagens de circunstância”.
Era para ser o Congresso da sucessão
Em 2012 pediram-lhe que ficasse mais um mandato. Agora, em 2016, como um dos rostos fortes da chamada ‘Geringonça’, a saída de Jerónimo de Sousa deixou de ser uma opção. A sucessão fica adiada, quem sabe, para 2020.
Com a certeza praticamente garantida da sua reeleição, o atual secretário-geral vai-se tornar no segundo líder mais duradouro de sempre do PCP, atrás do histórico Álvaro Cunhal.
A sucessão há muito que deixou de ser um monstro. Há uma nova geração pronta para segurar o barco.
A pouca ou nenhuma contestação dentro do partido ao atual líder, fazem adivinhar que quem segurar o leme do barco manterá o rumo. As soluções são muitas. O PCP apesar de ser o mais antigo partido português tem-se conseguido renovar, e hoje são vários os rostos da juventude. Miguel Tiago, Rita Rato, João Oliveira e João Ferreira são nomes fortes que têm conquistado terreno, dentro e fora do partido.
Hoje, em Almada a história deste Congresso começará a ser escrita, e quem sabe, também a da sucessão. Que PCP sairá do outro lado do rio? Um partido firme e com vontade de continuar a caminhar perto do PS, ou um PCP que vai bater o pé, um PCP que vai exigir ser mais ouvido?
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