Marcelo Rebelo de Sousa deixou estas mensagens num jantar em honra do Presidente angolano, João Lourenço, e da sua mulher, Ana Dias Lourenço, no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, num discurso que dividiu em dois, um "da razão" e outro "do coração".
Na sua intervenção, de cerca de nove minutos, divulgada no site da Presidência da República, o chefe de Estado português reiterou a ideia de que a visita de João Lourenço a Portugal dá início a "um novo ciclo" na vida dos dois Estados e povos.
Começando pelo "discurso da razão", o Presidente português argumentou que a "evidência dos factos" recomenda uma "ampliada cooperação" bilateral no plano global, com destaque para a Organização das Nações Unidas (ONU), liderada por António Guterres, onde, referiu, ambos os países querem ver a língua portuguesa "reconhecida como oficial".
Marcelo Rebelo de Sousa destacou, igualmente, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), antevendo uma "decisiva presidência angolana", a partir de 2020.
"Este momento pode ser único para mais, muito mais do que uma parceria especial. Para uma cumplicidade estratégica, ditada por uma sábia lucidez e uma fria perceção da realidade, cada qual sendo o que é, no seu caminho, avesso a exclusivos ou predomínios de qualquer natureza", sustentou.
No seu entender, não se deve "desperdiçar um horizonte que pode ser irrepetível" para essa convergência.
Neste contexto, afirmou: "O vosso sucesso é o nosso sucesso. Tal como temos a certeza de que o nosso sucesso é sentido também como vosso sucesso".
Em seguida, no "discurso do coração", o chefe de Estado português descreveu angolanos e portugueses como dois povos que bem podem "prometer ruturas eternas", mas logo estão a "penar de saudade" e "a sofrer mais com as tragédias, a vibrar mais com as vitórias" uns dos outros.
"Somos assim os dois, sem cura já para esse mal que nos condena a estarmos juntos", alegou.
Portugal como um dos principais parceiros de Angola
Também durante o jantar oficial, o Presidente de Angola defendeu hoje que Portugal é “um dos parceiros” com quem mais pretende “aprofundar e consolidar” as relações.
“Sairemos de Portugal com a convicção de que existe vontade política recíproca e interesse e empenho dos nossos empresários, dos nossos cidadãos, em construirmos uma relação exemplar, uma verdadeira parceria estratégica”, afirmou.
O Presidente angolano referiu, igualmente, que “as reformas que se operam em Angola, nesta nova era de maior abertura política e económica”, bem como de “moralização da sociedade”, que diz pretender instituir no país, Portugal terá um papel de destaque.
“Surge como um dos parceiros com quem mais gostaríamos de aprofundar e consolidar as nossas relações, não apenas pelas facilidades de compreensão e diálogo que a língua comum propicia, mas também porque estão perfeitamente identificados os domínios em que os nossos interesses políticos e económicos se complementam e potenciam”, sublinhou.
João Lourenço encontra-se em Portugal, na sua primeira visita de Estado ao país, a convite do homólogo português, deslocação que o próprio Presidente angolano classificou, na sua intervenção, como “oportuna e decisiva para o reforço das excelentes relações de amizade, solidariedade e cooperação” que, destacou, “sempre existiram” entre os “dois povos e países”.
“Viemos testemunhar e confirmar o quão fortes são as relações de amizade entre os nossos povos e países, a julgar pela forma calorosa e hospitaleira como fomos recebidos, quer da parte das autoridades constituídas, como do povo português, que nos tem brindado com profundos gestos de afeto e irmandade, sentimento que é recíproco e que assenta em séculos de convívio fraternal”, enfatizou o Presidente angolano.
A propósito do passado colonial de 500 anos, João Lourenço fez questão de sublinhar na sua intervenção que, ao longo da história comum, “nunca o povo angolano confundiu o povo português com aqueles que a ambos oprimiam” e que foi “comum e solidária” a “luta contra o mesmo opressor, o colonialismo e fascismo português”.
“Juntos lutámos, juntos vencemos, juntos estamos a construir um destino comum pela democracia, pelo desenvolvimento económico e social de nossos países, pela liberdade e bem-estar de nossos povos”, apontou, perante os membros das delegações portuguesa e angolana, incluindo o primeiro-ministro de Portugal, António Costa.
João Lourenço acrescentou que Angola e Portugal “estão em perfeita sintonia” em relação “aos grandes temas da atualidade internacional” e manifestou a convicção de que as duas “vozes” juntas prestarão um “contributo para que as novas e futuras gerações possam herdar um mundo melhor, mais justo e seguro”.
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