O antigo coordenador do BE e médico João Semedo morreu hoje, aos 67 anos, depois de anos de uma batalha contra o cancro.
Em declarações à agência Lusa, Francisco Louçã sublinhou a "marca profunda como um homem de grandes convicções, de grande conhecimento, de grande profundidade, mas também com uma enorme de estabelecer convergências unitárias e aproximações".
Para o antigo dirigente bloquista, "a defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), um dos seus grandes últimos combates, um combate da sua vida inteira, resumiu a sua preocupação com a solidariedade, com os direitos dos homens e das mulheres". Esse foi "um dos sinais mais nobres" da vida de João Semedo, salientou.
"Talvez este livro "Salvar o SNS", que escreveu com António Arnaut, seja um sinal de toda a sua vida. Uma preocupação com a qualidade da democracia, um esforço enorme para o qual dava o seu contributo e o seu conhecimento e uma vontade de fazer pontes, de alargar o debate, de trazer soluções, de mudar. Ter uma vida para mudar a vida de muito gente", enalteceu.
O antigo líder bloquista registou "com muita simpatia as mensagens do Presidente da República, do Presidente da Assembleia da República, de tantas pessoas de todos os quadrantes que reconhecem que João Semedo é um homem grande e um defensor extraordinário da qualidade da democracia e da vida pública portuguesa e do serviço de saúde, em particular".
"Eu creio que é a continuação desse combate, a persistência com a mesma garra que o João Semedo trouxe para a vida, com a alegria que ele trouxe, que ele será homenageado", apelou.
Na opinião de Francisco Louçã, João Semedo "deixou uma marca muito extensa durante muito tempo".
O ex-líder bloquista recordou que Semedo, "como jovem dirigente associativo e estudante, participou na solidariedade com as populações atingidas pelas cheias em 1967, depois foi dirigente estudantil na Faculdade de Medicina, onde se formou", tendo sido médico e diretor hospitalar.
"Foi quadro do PCP, foi membro do Comité Central, afastou-se, deixando sempre muitos amigos e mantendo uma amizade muito grande com muitas das pessoas com quem fez esse percurso. Foi depois dirigente do BE, seu coordenador até, e deputado", lembrou ainda.
O ex-coordenador do BE e médico teve uma vida marcada pela política e participação cívica, tendo as duas últimas lutas sido a despenalização da eutanásia e a defesa do Serviço Nacional de Saúde.
Depois de 30 anos de militância no PCP, João Semedo aderiu oficialmente ao BE a 04 de abril de 2007, apesar da aproximação ao partido já ter acontecido três anos antes, quando integrou, enquanto independente, as listas do BE às eleições europeias de 2004, a convite de um dos fundadores do partido Miguel Portas.
Após a saída de Francisco Louçã de líder do partido, entre 2012 e 2014, João Semedo assumiu a coordenação, em conjunto com a atual coordenadora, Catarina Martins, numa solução de liderança bicéfala que os bloquistas viriam a abandonar.
A batalha de João Semedo contra o cancro começou em 2015, quando renunciou ao mandato de deputado da Assembleia da República que exercia desde 2006.
Para lá de décadas de intervenção política, a atividade cívica de João Semedo foi multifacetada e incluiu, entre muitas outras, a participação nas campanhas de alfabetização pós-25 de Abril, a intervenção na Cooperativa Árvore, na direção do FITEI, na Universidade Popular e na fundação do Sindicato dos Médicos do Norte.
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