Está previsto que enquanto o bloco de partos do Hospital de Santa Maria estiver fechado para obras, em agosto e setembro, os serviços fiquem concentrados no Hospital S. Francisco Xavier, que a partir de 01 de agosto volta a funcionar de forma ininterrupta durante sete dias por semana.
Numa carta hoje dirigida ao diretor interino do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução do Santa Maria, médicos do serviço alegam, invocando razões de segurança para grávidas e equipa clínica, “não estarem asseguradas as condições para reforçar a urgência de obstetrícia e ginecologia do Hospital S. Francisco Xavier a partir de 1 de agosto”.
Segundo os signatários da carta, a que a Lusa teve acesso, e dirigida também à presidente do Conselho de Administração e ao diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, que agrega o Santa Maria, “continuam sem estar definidas condições e aspetos básicos de articulação essenciais”.
“A uma semana da prevista transição verifica-se não terem sido transmitidas à equipa informações adicionais concretas”, realça a missiva, apontando que “se mantém para os últimos dias de julho a irregularidade da constituição das equipas de urgência”.
De acordo com a carta, os médicos do serviço de obstetrícia e ginecologia do Hospital de Santa Maria foram informados há cerca de uma semana, numa reunião com o diretor interino Alexandre Valentim Lourenço, que iriam reforçar a urgência de obstetrícia e ginecologia do S. Francisco Xavier a partir de 1 de agosto, “assegurando quatro das oito equipas” do hospital e “mantendo uma urgência interna” no Santa Maria.
“Fomos ainda informados de que o objetivo no Hospital S. Francisco Xavier é não serem atingidos os 3.500 partos/ano à custa do envio de grávidas para hospitais privados”, acrescentam os signatários.
Entre as condições que consideram estar em falta para reforçar a urgência de obstetrícia e ginecologia do S. Francisco Xavier, os médicos do Santa Maria listam a “possibilidade real” de assegurar a escala-tipo proposta para a urgência externa do S. Francisco Xavier (seis elementos, com um mínimo de três especialistas), a constituição e funções da equipa da urgência interna no Santa Maria, a definição dos casos que terão de ficar sob internamento neste hospital ou das “situações clínicas passíveis de serem referenciadas” para unidades privadas.
A carta salienta que está ainda por garantir a “informação às grávidas” vigiadas no Hospital de Santa Maria, “sobre onde e como decorrerá a sua indução de trabalho de parto e o parto”, a necessidade de disponibilização de pessoal do Santa Maria “para apoio às enfermarias de grávidas e puérperas” do Hospital S. Francisco Xavier, bem como a “formação relativamente a programas informáticos, agilização de contactos com outras especialidades e processo de referenciação para outras unidades hospitalares”.
Há cerca de duas semanas, 50 médicos, enfermeiros e assistentes operacionais juntaram-se à entrada do Hospital de Santa Maria contra o encerramento da maternidade no verão e pelo fim do envio de grávidas para hospitais particulares.
No final de junho, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, invocou que as obras no bloco de partos do Hospital Santa Maria eram “mesmo uma urgência” e não poderiam decorrer com o serviço a funcionar.
O protesto na entrada do Santa Maria visou também contestar a exoneração, em junho, do então diretor do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução, Diogo Ayres de Campos, com a administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte a alegar que o médico tinha, “de forma reiterada, colocado em causa o projeto de obra e o processo colaborativo com o Hospital S. Francisco Xavier durante as obras da nova maternidade do Hospital Santa Maria”.
Uma semana antes do protesto, numa carta dirigida ao ministro da Saúde, dezenas de médicos do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução do Hospital Santa Maria pediram a Manuel Pizarro uma intervenção “pessoal, direta e urgente” para que a direção afastada fosse readmitida.
Segundo estes profissionais, os médicos Diogo Ayres de Campos e Luísa Pinto, que dirigia o Serviço de Obstetrícia e também foi exonerada, “foram injustamente afastados das suas funções”.
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