"O Orçamento para 2022 acaba por ser um conjunto de intenções num quadro de evolução imprevisível, condenado a fazer uma ponte precária para outro Orçamento – o de 2023 – cuja elaboração já começou e que se espera já possa ser aplicado com mais certezas e menos interrogações sobre o fim da pandemia, o fim da guerra, os custos de uma e de outra na vida das Nações e das pessoas", escreve Marcelo Rebelo de Sousa na nota em que anuncia a promulgação.
Na mensagem colocada no portal da Presidência na Internet, Marcelo começa por escrever o orçamento que recebeu para promulgação "padece de limitações evidentes, e, porventura, inevitáveis".
Para justificar a sua posição, o chefe de Estado aponta sete limitações ao documento, desde logo por só poder ser aplicado "a partir de julho deste ano", em vez de entrar em vigor a 01 de janeiro, mas também porque "ainda convive com um tempo de pandemia a converter-se em endemia".
"Reelaborado e debatido em período de guerra, baseia-se num quadro económico em mudança e de contornos imprevisíveis, como imprevisíveis são o tempo e o modo do fim da guerra e os seus efeitos na inflação, no investimento, e no crescimento, em Portugal como na Europa, ou no resto do mundo", escreve o Presidente, o qual lembra, por outro lado, que "o Plano de Recuperação e Resiliência só conhecerá aplicação sensível a partir da segunda metade de 2022".
Marcelo Rebelo de Sousa adverte também que "o ajustamento das Sociedades e das Administrações Públicas ao novo tempo — pós-pandemia e pós-guerra — está por definir" e que "a modernização administrativa, também ligada às mudanças nas qualificações, no digital e na energia, conhece um compasso de espera".
Dá como exemplo a descentralização, que afirma estar "atrasada no seu processo, e levantando ainda questões de substância, de financiamento e de tempo e modo de concretização".
Depois de o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, ter apelado ao veto do orçamento, na sequência da sua oposição à estratégia do governo para a descentralização, o chefe de Estado não satisfez a vontade do autarca, mas deixou uma mensagem no decreto de promulgação, como aliás tinha prometido.
Apesar dos vários reparos, Marcelo considera que "faz sentido promulgar e aplicar, o mais cedo possível, este Orçamento" e aponta quatro razões.
Em primeiro lugar, considera ser "preferível ter um quadro de referência, mesmo se tentativo e precário, ultimado há um mês, a manter o quadro anterior, ultimado há mais de seis meses".
"É preferível não sacrificar por mais tempo, pessoas e famílias que estão, desde janeiro, à espera de mesmo se pequenas, mas para elas importantes, medidas sociais", sustenta.
Para o Presidente, é ainda "preferível concentrar no Orçamento para 2023 – na sua preparação e debate – as matérias que estão ou possam estar em suspenso – desde a execução do Plano de Recuperação e Resiliência até a outros fundos europeus, à descentralização, à mais clara visão acerca dos custos da pandemia e da guerra e da sua duração", mas também "não ficar preso ao passado – regressando a uma discussão sobre o Orçamento para 2022, um Orçamento de ponte, para meio ano – atrasando mais um mês a sua aplicação, e olhar para o futuro e, sobre ele, debater abertamente a realidade possível e desejável".
"Nestes termos, o Presidente da República promulgou, mal o recebeu da Assembleia da República, o Decreto n.º 4/XV, de 27 de maio de 2022, que aprova a Lei do Orçamento do Estado para o ano de 2022", concluiu a nota da Presidência.
O Orçamento do Estado para 2022 foi aprovado pelo parlamento no dia 27 de maio, em votação final global, com os votos a favor do PS e as abstenções dos deputados do PSD da Madeira e dos deputados únicos do PAN e Livre e votos contra do PSD, Chega, IL, BE e PCP.
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