“Conseguimos atestar que isso é facto, as mudanças climáticas têm um papel importante principalmente nos eventos de temperatura como ondas de calor, estiagem e de seca prolongada”, disse a investigadora que também coordena o Observatório do Calor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“É muito contundente, é muito expressivo, os sinais de que as mudanças climáticas dão para [aumento dos] eventos extremos de temperatura, principalmente de calor. São muito expressivos os sinais sobre seca e estiagem prolongada também. Então esse é, definitivamente, um novo normal dessa faixa que vai do centro-oeste ao sudeste, incluindo parte norte da região sul do Brasil (…) Os eventos de tempestade também serão cada vez mais normais”, acrescentou.
Esta semana, as regiões sudeste ao centro-oeste do Brasil sofreram com uma onda de calor que, além de elevar a temperatura e trazer desconforto para a população, também favoreceu a disseminação dos incêndios na região do Pantanal, um bioma localizado entre os estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, na região central do país que está a arder.
O índice de calor — uma combinação de temperatura e humidade — atingiu 58,5 graus Celsius na manhã de terça-feira passada no Rio de Janeiro, o valor mais alto já registado na cidade. As temperaturas reais caíram ligeiramente na quarta-feira, mas subiram novamente na quinta-feira.
Em São Paulo, as temperaturas atingiram mais de 37 graus, pouco abaixo de um recorde, e o estado de Mato Grosso do Sul, no centro-oeste do país, registou 43 graus, outro recorde de temperatura.
As altas temperaturas registadas nos últimos dias no Brasil foram provocadas pela quarta onda de calor do ano e, segundo os cientistas, são consequência de um intenso El Niño (fenómenos que causam grandes alterações no clima) e dos efeitos do aquecimento global.
Segundo a investigadora da UFRJ, há uma relação muito direta e já documentada entre estas duas grandes questões que explicam a subida das temperaturas.
“Neste momento temos um El Niño forte atuando no pacífico e temos as mudanças climáticas como os elementos chave para entendermos por que o Brasil está a registar recorde de temperatura e tem tido cada vez mais ondas de calor”, avaliou Núbia Beray.
A especialista reforçou que o Brasil historicamente regista temperaturas mais elevadas no centro-oeste e no sudeste, tempo muito seco no nordeste e em regiões da Amazónia e um clima muito chuvoso no sul quando está sob o efeito do El Niño, mas a intensidade com que estes fenómenos estão a acontecer este ano é atípica.
“Seria impossível termos episódios de ondas de calor com essa magnitude, com essa intensidade, com essa abrangência no Brasil sem a participação das mudanças climáticas. Há uma combinação muito grande de fatores que nos levam a ter essas ondas recorrentes de calor. Falamos da segunda onda de calor de grande magnitude em dois meses”, concluiu Núbia Beray.
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