“Há preocupação, mas não vejo que haja respostas a serem avançadas. Existe pouca aposta na sinalização precoce, em qualquer uma das situações [das várias doenças mentais]. Existem muito poucos recursos na área da saúde mental particularmente de psicólogos e psicólogas”, disse Francisco Miranda Rodrigues em declarações à agência Lusa.
A edição de hoje do jornal 'Público' revela que a incidência da depressão em Portugal “não era tão alta havia sete anos” e que, segundo dados do relatório Retrato da Saúde apresentado hoje, o número de portugueses (entre os inscritos nos centros de saúde) com depressões passou de 6,85% para os 9,8%, entre 2011 e 2017.
A incidência das perturbações de ansiedade quase duplicou (dos 3,51% para os 6,51%), enquanto a demência também aumentou e já atinge quase 1% da população.
“De relatório em relatório que vai sendo elaborado, por diferentes organismos, vamos vendo continuamente o agravar do que é a situação de casos de depressão em Portugal, mas também de perturbações de ansiedade, e agora ainda acrescentamos outra dimensão que tem sido menos referida relativa às demências em que crescentemente vemos o agravamento do quadro existente em Portugal”, lamentou o bastonário.
Segundo o responsável, continua a olhar-se para estes números e “a mostrar preocupação generalizada sobre o facto de estarem a aumentar”, mas, em termos de medidas concretas para fazer face à situação, “continua-se a ver muito pouco”.
“Nos cuidados saúde primaria é onde faltam ainda mais recursos para fazer um trabalho de sinalização precoce, de prevenção e também de acompanhamento das situações quando precisam e recorrem à ajuda, não sei que mais tempo será necessário para mobilizar recursos para isto”, frisou Francisco Miranda Rodrigues.
De acordo com o bastonário, assiste-se “recorrentemente às desculpas financeiras” para que o problema não seja resolvido.
“Não sei se há uma incapacidade e insensibilidade total de quem decide os números em perceber qual o impacto que isto tem na população portuguesa. É completamente incompreensível para mim, isto custa muitíssimo mais a Portugal do que se estivéssemos a apostar na prevenção e sinalização precoce destas situações”, acrescentou.
Francisco Miranda Rodrigues fez ainda a analogia ao que aconteceu com os grandes incêndios que deflagraram em Portugal no ano passado, questionando se o Estado estará a esperar por situações “mais graves” para resolver a questão.
“Pergunto-me se temos nesta matéria de esperar por situações mais graves, e quais, para haver uma verdadeira resposta e mobiliação de recursos para fazer face a este problema, coisa que ate agora não acontece”, questionou.
O bastonário reiterou a acusação ao Ministério das Finanças pela ausência de concursos para os prometidos profissionais a contratar para a Saúde nos dois últimos anos, lembrando que havia o compromisso de contratar 55 psicólogos em 2017 e que este ano deviam ser contratados mais 40.
Francisco Miranda Rodrigues lamentou que não tenha sido aberto qualquer concurso para os quase cem psicólogos prometidos para 2017 e para este ano para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Não abriram concursos porque não houve autorização do Ministério das Finanças”, afirmou o bastonário.
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