A Human Rights Watch (HRW) lamentou as "longas e injustas penas de prisão" de muitos tibetanos que "não fizeram nada mais do que exigir pacificamente respeito pelos seus direitos humanos".
A 14 de março de 2008, a capital da região, Lassa, foi palco de violentos ataques contra a presença chinesa. Segundo o Governo chinês, os motins causaram 18 mortos. No entanto, é desconhecido o número de tibetanos mortos pelas tropas chinesas naquela data.
É também "difícil de avaliar" o número de tibetanos "detidos arbitrariamente" pelas autoridades chinesas desde então, frisou a organização não-governamental (ONG), que contou neste relatório pelo menos 80 detenções de "longo prazo".
Na maioria dos casos analisados pela organização de defesa dos direitos humanos, as famílias dos presos nunca foram autorizadas a contactá-los, nem foram informadas dos seus paradeiros.
Pouco se sabe sobre as acusações, devido às poucas informações divulgadas pelos órgãos de comunicação social chineses, e as pessoas que tentam passar informação para o estrangeiro "correm o risco de serem detidas", advertiu a HRW.
Por outro lado, a ONG manifestou preocupação com a saúde destes presos, na sequência de relatos de "graves abusos físicos" e da "negação de cuidados de saúde" básicos.
Ainda sobre as acusações, a organização vincou que várias pessoas foram acusadas de "incêndio criminoso", enquanto outras foram originadas por atividades políticas não violentas.
"As autoridades chinesas devem parar de processar pessoas por dissidência pacífica, inclusive por acusações abusivas como 'pôr em perigo a segurança do Estado e separatismo'", defendeu.
Para a ONG, "não existem provas que sugiram que qualquer um dos arguidos tenha recebido um julgamento justo perante um tribunal independente e imparcial, tal como exigido pelo direito internacional".
O ativista ambiental Karma Samdrup foi o único réu a quem as autoridades permitiram ter representação no julgamento.
No mesmo relatório, a HRW expôs os contornos de vários casos, um dos quais envolve três monges do mosteiro de Drepung, em Lassa: Jampel Wangchuk, Konchok Nyima e Ngawang Chonyi, todos "professores monásticos distintos" e dos "principais discípulos do falecido Lamrim Rinpoche, um venerado lama de Drepung que não foi nomeado pelo governo.
Os monges foram acusados de não terem impedido um protesto naquele mosteiro no mês anterior às manifestações. Dois anos mais tarde, num julgamento fechado, o tribunal condenou-os a prisão perpétua. As acusações não são conhecidas.
Noutro caso exposto pela ONG, três residentes de Lassa foram condenados por espionagem e condenados a duras penas, de 14 anos a prisão perpétua, por alegadamente terem enviado informações sobre os protestos de 2008 a pessoas fora da China.
"O Governo chinês deve esclarecer imediatamente a situação, o paradeiro e o bem-estar destes presos e permitir o acesso a famílias, advogados e médicos", sublinhou a ONG, e acrescentou que "todas as pessoas detidas por atividades pacíficas devem ser imediatamente libertadas".
Por último, a HRW apelou ao Governo chinês que conceda a peritos da ONU o acesso às áreas tibetanas, para documentar alegadas violações de direitos e informar o público para possíveis medidas de responsabilização.
Os protestos em março de 2008 tiveram como pano de fundo o aniversário da frustrada rebelião contra a administração chinesa, em 1959, que terminou com o exílio na vizinha Índia do líder espiritual dos tibetanos, dalai lama, que Pequim acusa de ter "uma postura separatista".
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