"Quase toda a gente me tinha desaconselhado a viagem, que seria a primeira de um pontífice ao Médio Oriente assolado por violências extremistas e profanações jihadistas: a Covid-19 ainda não tinha afrouxado completamente o seu domínio, até o núncio naquele país, Monsenhor Mitja Leskovar, tinha acabado de testar positivo para o vírus e, sobretudo, todas as fontes apontavam para riscos de segurança extremamente elevados, de tal forma que atentados sangrentos tinham mesmo assolado a véspera da partida. Mas eu queria ir em frente. Sentia que tinha de o fazer", escreveu o Papa Francisco no livro, citado pelo jornal italiano Corriere Della Sera.
O Papa revela também que teve conhecimento de atentados que estavam a ser preparados. "Fui avisado assim que aterrámos em Bagdade, no dia anterior. A polícia tinha alertado a Gendarmaria do Vaticano para uma informação dos serviços secretos britânicos: uma mulher cheia de explosivos, uma jovem kamikaze, estava a caminho de Mossul para se fazer explodir durante a visita papal. E uma carrinha tinha também partido a toda a velocidade com o mesmo objetivo", conta.
"Quando, no dia seguinte, perguntei à Gendarmaria o que se sabia sobre os dois bombistas, o comandante respondeu-me laconicamente: 'Já não estão lá'. A polícia iraquiana interceptou-os e detonou-os. Isto também me impressionou muito. Também este foi o fruto envenenado da guerra", refere ainda.
Em Portugal, a autobiografia “Esperança”, que foi escrita ao longo dos últimos seis anos, será editado pela chancela Nascente, em papel e formato digital, uma semana depois da data prevista para o lançamento mundial.
A autobiografia foi escrita com Carlo Musso, ex-diretor editorial de não-ficção da Piemme e da Sperling & Kupfer, e depois fundador da editora independente Libreria Pienogiorno, de acordo com os desejos do Papa.
Originalmente concebido para ser publicado após a sua morte, este documento ganhará vida mais cedo, devido ao novo Jubileu da Esperança anunciado para 2025, e às necessidades dos tempos atuais, explica a editora.
“O livro da minha vida é o relato de um caminho de esperança que não posso imaginar separado do da minha família, da minha gente, de todo o povo de Deus. É também, em cada página, em cada passo, o livro de quem caminhou junto de mim, de quem nos precedeu, de quem nos seguirá”, escreve o Papa na introdução do livro.
“Uma autobiografia não é a nossa literatura privada, é mais o nosso saco de viagem. E a memória não é apenas o que recordamos, mas o que nos circunda. Não fala unicamente do que foi, mas do que será. Parece que foi ontem, mas afinal é amanhã. Tudo nasce para florir numa eterna primavera. No fim, diremos apenas: não recordo nada em que Tu não estejas”, acrescenta.
De acordo com a editora, a autobiografia de Francisco conta com “uma riqueza de revelações e histórias inéditas, comoventes e muito humanas, pungentes e dramáticas, mas também capazes de um verdadeiro humor”.
As memórias do Papa, vertidas nesta autobiografia, começam nos primeiros anos do século XX com a história das suas raízes italianas e a aventura da emigração dos seus antepassados para a América Latina.
Passa depois pela sua infância, adolescência, escolha vocacional, vida adulta, percorrendo todo o seu papado até aos dias de hoje.
Trata-se de um texto de “grande força narrativa” em que, através do seu relato autobiográfico, o Papa aborda com “franqueza, coragem e profecia algumas das questões mais importantes e controversas dos nossos tempos, bem como os momentos cruciais do seu serviço como pastor universal da Igreja”, descreve a editora.
O livro é enriquecido por algumas fotografias, incluindo material privado e inédito disponibilizado pessoalmente pelo Papa.
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