Em declarações aos jornalistas, Jerónimo de Sousa foi questionado se as medidas relativas ao trabalho anunciadas no congresso do PS, que decorreu no final de agosto, seriam um fator decisivo para o PCP aquando da votação do Orçamento do Estado para o próximo ano.

O líder comunista afirmou que, “para além de algumas questões relacionadas com o teletrabalho, houve um vazio em relação a questões centrais, como por exemplo o combate à precariedade”.

“Foi anunciado mas nem uma medida foi avançada”, lamentou, apontando que, “em relação à contratação coletiva e à questão da caducidade, nem uma palavra nem uma referência, em relação à desregulação dos horários nem uma palavra nem uma referência”.

Apesar de ter procurado “nas conclusões do congresso”​​​​​​​, Jerónimo disse que o PS quer "fazer uns retoques para deixar no essencial tudo na mesma” e garantiu que o PCP vai lutar “para que isso se altere”.

“Particularmente as questões da precariedade, particularmente as questões da contratação coletiva, em relação a situações dramáticas, particularmente para muitos jovens que vivem sempre com a corda na garganta tendo em conta o seu vínculo precário”, elencou, frisando que “o congresso do Partido Socialista não respondeu a isso”.

O líder comunista falava aos jornalistas no final de uma ação de contacto com trabalhadores da empresa Saint-Gobain Sekurit, em Santa Iria da Azoia, no concelho de Loures (distrito de Lisboa).

Jerónimo de Sousa encontrou-se com os trabalhadores que se manifestavam à porta da empresa, tendo sido recebido com palmas.

Vestidos com a farda de trabalho, os manifestantes gritavam palavras de ordem como “a luta continua” e “vidreiros unidos jamais serão vencidos”.

Os trabalhadores estão contra a intenção da Saint-Gobain Sekurit de cessar a atividade produtiva em Portugal “devido aos prejuízos acumulados nos últimos anos”, e proceder ao despedimento coletivo dos 130 trabalhadores.

Dirigindo-se aos trabalhadores, o líder do PCP afirmou estar perante a “destruição de uma empresa que é viável” devido “ao interesse económico da multinacional”.

E deixou também críticas ao “silêncio” Governo perante este “ato criminoso”.

Pedindo aos trabalhadores que “persistam e lutem”, Jerónimo de Sousa manifestou a disponibilidade do PCP para apoiar as suas reivindicações e indicou que o grupo parlamentar vai questionar o Governo sobre o assunto, tal como fizeram os deputados comunistas ao Parlamento Europeu.

No encerramento do 23º Congresso Nacional do PS, que decorreu em Portimão, o secretário-geral socialista, António Costa, afirmou que vai alargar os apoios aos jovens para promover a sua autonomia, desde logo no plano da fiscalidade, e prometeu alterar a legislação laboral para desincentivar a precariedade e combater abusos.​​​​​​​

António Costa disse que serão apresentadas no parlamento 64 medidas da "Agenda para o trabalho digno", das quais destacou duas: A introdução do princípio da presunção de quem trabalha para as plataformas digitais não é empresário em nome individual, mas trabalhador por conta de outrem, com direito a contrato; o Estado, municípios e freguesias, ao nível da contratação pública, só aceitam fechar acordos com empresas de limpeza, segurança ou catering se não estas não tiverem precariedade laboral.