Percorrendo o território, apenas veem-se montes contínuos de eucaliptal ardido que já começou a regenerar. A maior parte dos terrenos estão por cortar e as ações de reflorestação até ao momento quase que se resumem a iniciativas solidárias e pontuais.
Na zona de Pedrógão Grande, no norte do distrito de Leiria, os proprietários aguardam por medidas e há quem esteja disposto a reverter a aposta no eucalipto, espécie que domina a paisagem da região.
"Há pessoas que querem investir", nota o membro da direção da APFlor (Associação dos Produtores e Proprietários Florestais do Concelho Pedrógão Grande), Jorge Fernandes.
Em declarações à agência Lusa, o tesoureiro da APFlor sublinha que o investimento "com capitais próprios - a maior parte - é para o eucalipto e pouco mais", sendo que "também há muita gente interessada em investir [noutras espécies], mas estão à espera das medidas do PDR [Programa de Desenvolvimento Rural], que, neste momento, estão fechadas".
Segundo Jorge Fernandes, há proprietários com vontade de fazer "algumas coisas diferentes", como apostar nas oliveiras, medronheiros ou carvalhos.
"Há pessoas dispostas a arrancar eucaliptos e plantar outras espécies, mas tem que haver apoio para isso", frisa, referindo que, até ao momento, há poucas ações de reflorestação.
As pessoas, conta, "estão completamente na expectativa", recordando que as ações de reflorestação deveriam arrancar nesta altura e podem estender-se, no máximo, até maio.
A expectativa está patente no discurso de Isidro Lopes Fernandes, de 69 anos, proprietário que gere cerca de 100 hectares (70 hectares seus, o restante de familiares) de pinhal e eucaliptal.
"Está tudo à espera para ver o que isto vai dar. De há quatro ou cinco anos para cá plantava uma média de quatro ou cinco mil eucaliptos. Agora, vou parar", disse à Lusa o proprietário florestal de Mó Grande, no concelho de Pedrógão Grande.
Para Isidro Lopes Fernandes, a única opção viável para os proprietários será o eucalipto, que dá rendimento a curto prazo.
"Temos uma população envelhecida. Não se vê ninguém com menos de 50 anos a trabalhar o terreno. Daqui a dez anos, pessoas como eu, nem têm condições para fazer nada", vinca, referindo que até o pinheiro "não vale a pena pensar em plantar", porque na sua vida já não vai ver resultados.
A Associação Raiz Permanente, que nasceu depois dos incêndios em Pedrógão Grande, procura mostrar que há outras soluções.
Em janeiro, pretendem avançar com dois projetos-piloto em terrenos de dois associados. Num dos locais (com seis mil metros quadrados), vão criar um medronhal com castanheiros e proteção de ciprestes, e noutro terreno mais pequeno (500 metros quadrados) vão criar uma barreira de ciprestes e trabalhar de forma escalonada com aromáticas ou plantas para as abelhas, contou à Lusa a presidente da associação, Fernanda Rodrigues.
Nesta zona, constata, muita gente depende do eucalipto para sobreviver, sendo que a associação quer mostrar que "há mais soluções", utilizando os projetos-piloto como forma de "mostrar que há alternativas".
A Ferraria de São João é um dos poucos exemplos visíveis de reflorestação, em que os moradores não esperaram por ações do Estado para iniciar o processo à volta da aldeia do concelho de Penela, também afetada pelo incêndio de Pedrógão Grande.
Com o intuito de criarem uma zona de proteção, já arrancaram os eucaliptos e começaram agora a plantar espécies autóctones como o sobreiro, o carvalho ou o castanheiro, com a ajuda de voluntários.
Entretanto, outras aldeias já contactaram a Ferraria de São João, mas o presidente da associação de moradores, Pedro Pedrosa, nota que poderá ser mais difícil começar agora, quando a "emoção inicial" já desapareceu.
"Os eucaliptos estão a rebentar com muita força e agora é tudo mais difícil", conta, sublinhando que os processos de reflorestação de baixo para cima poderão ter mais dificuldades de se implementar e, mesmo aqueles que surjam por parte do Estado ou das autarquias, têm de ser desenvolvidos o quanto antes.
"Quanto mais tempo [demorar a começar], pior", resumiu.
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