“Apesar deste festival literário contar com 14 edições e por cá terem passado alguns dos maiores nomes da literatura em português, nunca tivemos a visita de um membro do Governo ligado à cultura”, afirmou Antonino Sousa.
O autarca falava a propósito da inauguração das obras de modernização da biblioteca municipal que hoje se realizou com a presença do ministro da Cultura de Cabo Verde, Abraão Vicente, que está na cidade a acompanhar o festival, no ano em que o homenageado é Germano Almeida, prémio Camões em 2018 e escritor daquele país lusófono.
Na placa da inauguração dos melhoramentos consta até uma referência à presença do governante cabo-verdiano.
O presidente da câmara destacou à Lusa ser “uma honra imensa ver este reconhecimento por parte de um governante de um país de língua oficial portuguesa, que tem nesta edição um seu homenageado”.
Para Antonino Sousa, “não deixa de suscitar alguma estranheza que da parte do Governo português nunca tenha existido essa mesma sensibilidade”.
Questionado sobre se, ao longo das sucessivas edições, tem sido habitual seguirem convites para os ministros da Cultura portugueses se deslocarem ao festival, o edil respondeu: “Naturalmente que o fazemos sempre e este ano fizemo-lo até de forma mais expressiva, atendendo que ia estar cá um governante de um outro país, mas nem isso foi suficiente”.
Antonino Sousa sinalizou que o convite deste ano “não mereceu sequer comentário por parte da ministra da Cultura”.
“Isso deixa-nos tristes, porque não é apenas uma desfeita para o município ou para o presidente da câmara, é para todos os que se envolvem na organização deste festival literário, para o homenageado, para o próprio homólogo cabo-verdiano e para todos aqueles que, ao longo destas 14 edições, construíram o Escritaria. Portanto, merecíamos uma outra consideração”, concluiu o autarca de Penafiel.
Na sexta-feira, o ministro da Cultura de Cabo Verde propôs ao município português de Penafiel, no distrito do Porto, a realização, em 2022, naquele país africano, de uma réplica do festival literário Escritaria.
“Fizemos o desafio ao senhor presidente para termos uma câmara geminada com Penafiel e fazermos uma edição do Escritaria em Cabo Verde, ou seja, promover a internacionalização do próprio conceito do Escritaria, a começar pelo Germano Almeida”, afirmou, em entrevista à agência Lusa.
Abraão Vicente destacou, por outro lado, a “arte de bem receber” de Penafiel.
“Não só fui bem recebido, como percebi que o Germano Almeida está profundamente grato e impressionado com a forma como a sua obra está a ser divulgada”, concluiu.
Por seu turno, o presidente da Câmara de Penafiel, Antonino Sousa, disse à Lusa que promover uma réplica do festival em Cabo Verde é “um desafio muito interessante” e que o seu município vê com “entusiasmo”.
“O festival pode dar um contributo para a aproximação das comunidades que têm em comum a língua portuguesa. Há uma oportunidade imensa de criar maior proximidade entre os escritores, entre os leitores”, anotou.
Agora que chegou à sua 14.ª edição, o Escritaria, defendeu o edil, o festival “pode ganhar uma nova escala, não apenas mostrando o seu espólio nos países dos escritores homenageados, como Mia Couto ou Pepetela, mas, porque não, levar este espólio a Brasília ou a S. Paulo, no Brasil”.
Até domingo, o escritor Germano Almeida vê destacada a sua vida e a sua obra em várias iniciativas que decorrem na cidade.
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