Segundo relata a agência espanhola EFE, nos vídeos publicados nas redes sociais por ativistas iranianos ouvem-se gritos de “morte ao ditador” — em referência ao líder supremo da república islâmica, o ayatollah Ali Khamenei — e o lema dos protestos “mulher, vida, liberdade”.

Num desses vídeos, em Teerão, capital iraniana, duas mulheres sem véu sobem a uma plataforma, apoiadas por buzinas de carros.

Os protestos aconteceram apesar da forte mobilização policial nas ruas.

Fez no sábado um ano que Mahsa Amini morreu, depois de ter sido detida pela polícia de costumes iraniana por não estar a usar o véu islâmico, episódio que desencadeou inéditas manifestações cívicas contra o regime teocrático de Teerão, que reprimiu violentamente os protestos.

A data foi assinalada em cidades como Teerão, Mashad e Rasht e em especial no território do Curdistão, de onde Mahsa era originária.

No sábado, as autoridades impediram que a família da jovem celebrasse uma cerimónia no cemitério onde está enterrada, depois de terem detido temporariamente o seu pai.

Na cidade de Nurabad, na província ocidental de Fars, dois homens numa moto atiraram contra as forças de segurança que se saldou na morte de um membro da ‘basiji’, a milícia islâmica mobilizada para impedir protestos.

Os autores do ataque, que causou ainda três feridos, conseguiram fugir sem serem identificados, segundo a agênca oficial iraniana Fars.

Este episódio e os protestos que se realizaram em várias cidades, ainda que tímidos, são as mais significativas expressões do descontentamento social desde maio, quando três manifestantes foram executados pelo regime.

Os protestos que se seguiram à morte de Mahsa Amini levaram milhares de manifestantes às ruas do Irão, exigindo o fim do regime, com um saldo de 500 mortos e milhares de detidos.

Nas últimas semanas, as autoridades iranianas intensificaram os avisos e as medidas repressivas numa tentativa de evitarem que o primeiro aniversário da morte de Amini se convertesse em novas manifestações.

As autoridades iranianas comunicaram hoje a detenção, em três províncias do país, de várias pessoas que pretendiam “provocar o caos” e colaborar com “meios de comunicação hostis”, mas não adiantaram o número exato.

Os guardas da revolução, o exército ideológico do regime iraniano, deram conta da detenção de um cidadão com dupla nacionalidade por “organização de protestos e sabotagem”, segundo a agência oficial IRNA.

Amini foi detida pela polícia de costumes iraniana em 13 de setembro de 2022, por alegado uso indevido do ‘hijab’, o véu islâmico, tendo surgido morta três dias depois, quando ainda estava sob custódia policial.

Apesar da visibilidade dos protestos e da atenção internacional, o movimento cívico ainda não conseguiu ameaçar os alicerces do regime teocrático liderado pelo ayatollah Ali Khamenei.

Os Estados Unidos, em coordenação com o Reino Unido, o Canadá e a Austrália, anunciaram na quinta-feira a imposição de sanções contra 25 cidadãos iranianos (membros das forças de segurança e dos guardas da revolução), três órgãos de informação (o canal Press TV e as agências Tasnim e Fars) e uma empresa “ligada à censura da internet” no país — todos relacionados com a repressão das manifestações cívicas.