Graça Morais é a mentora deste espaço com o nome da pintora transmontana e que, nos últimos 13 anos, levou a Bragança obras de artistas de renome que têm doado trabalhos para o centro que se tornou numa referência da arte contemporânea.

Graça Morais foi a primeira a oferecer 52 quadros, aos quais junta agora mais 70, no valor de meio milhão de euros, como avançou a pintora à Lusa.

Segundo disse, a doação vai ser oficializada numa cerimónia, na sexta-feira, por ocasião da abertura da nova exposição de Graça Morais, com o título “Inquietações”, a primeira da artista desde o início da pandemia.

A pintora explicou à Lusa que, na doação, estão “obras de diferentes fases” da carreira e adiantou que no próximo ano pretende “fazer uma doação maior”.

“Porque eu acho que tenho essa obrigação de deixar um legado importante aqui à região onde eu nasci e ao meu país”, declarou.

Graça Morais foi convidada pela Câmara de Bragança, a proprietária do Centro de Arte Contemporânea, para ser a mentora deste espaço inaugurado em 2008.

O equipamento cultural está instalado num edifício histórico, no centro de Bragança, remodelado pelo arquiteto Souto de Moura, e tornou-se num espaço que dá acesso, nesta região, a arte antes apenas acessível nas grandes cidades.

O Centro tem sempre uma exposição de Graça Morais em simultâneo com a de outro artista, e promove atividades, nomeadamente com os mais novos, para despertar para as artes.

Quando assinalou uma década, em 2018, o Centro de Arte Contemporânea de Bragança fez uma retrospetiva de todas as exposições individuais que por ali passaram de artistas como Paula Rego, Júlio Pomar, Ana Vieira, Alberto Carneiro, Pedro Calapez e Julião Sarmento, entre outros.

Mostrou também, pela primeira vez, a coleção de arte própria, resultado do acervo que tem somando ao longo dos dez anos, com doações dos artistas que por ali passaram, e de outras instituições.

A artista disse ainda que gostava de ver em Portugal o exemplo de outros países onde os ricos financiam as artes, mas considera que o que se vê é “infelizmente a quantidade de bandidos, que não têm outro termo, que têm roubado o país e que não criam riqueza, só acumulam para eles”.

No entender da pintora, que está em Bragança a preparar a próxima exposição, o que Portugal tem é “falsos mecenas que compram arte com dinheiro que nos pertence”, o que a leva a concluir que “muitos dos problemas do nosso mundo” resultam de as pessoas se terem tornado “demasiado ambiciosas”.

“Ser rico não é defeito, agora estes bandidos que enriqueceram e que colocaram o dinheiro não sei aonde e roubaram o país e roubam-nos a nós todos os dias, que temos de pagar estes impostos violentos, isso só mostra que há pessoas que perderam a cabeça”, acrescentou.

Graça Morais aponta exceções como o empresário Rui Nabeiro, que disse admirar “imenso, porque é um homem que nasceu pobre, foi enriquecendo, mas criou riqueza para a comunidade e para o país”.

No mecenato ressalvou também o exemplo de alguns bancos, mas reiterou que a situação portuguesa está longe do que “se passa, por exemplo, em França e na América, onde há pessoas que sentem que têm que oferecer à comunidade”.

Entendem, como destacou, que “parte da riqueza deve ser para oferecer à comunidade e essa oferta muitas vezes é feita para ajudar as pessoas mais pobres, mas também para a arte, porque sabem a importância da arte no mundo porque a arte é que fica”.

“Nós não temos mecenas em Portugal”, insistiu, lamentando também que simultaneamente o país tenha “um Ministério da Cultura com um investimento também muito reduzido em arte”.

Graça Morais vai mostrar trabalhos inéditos na primeira exposição depois da pandemia, com inauguração marcada para sexta-feira, no Centro de Arte Contemporânea de Bragança.

*Por Helena Fidalgo, da agência Lusa