A equipa que coordena o plano de vacinação apresentou hoje ao governo a primeira versão do documento, que será apresentado publicamente amanhã. A ministra destaca "três incertezas" sobre o processo, avisando "que não são ainda conhecidos os resultados clínicos da fase três, pelo que a eficácia das vacinas ainda não está verificada pela Agência Europeia do Medicamento". Depois, falta também saber a duração da imunidade, bem como a segurança da vacinação de crianças e grávidas.
Para Marta Temido, os pressupostos são: a disponibilização das vacinas pelas farmacêuticas; a validação da sua viabilidade e segurança pela Agência Europeia do Medicamento; e a entrega das vacinas a cada um dos países europeus ao mesmo tempo.
Há uma "margem de incerteza" no processo, mas o caminho está a ser feito, diz a governante. A task force está a ver as vacinas disponíveis, definir os grupos de vacinação e os locais onde a vacina para a covid-19 deve ser administrada. "Temos de ter desde já a perceção de que o processo de vacinação será longo. Não se vai concretizar num único dia, nem num período curto", alerta a Marta Temido, reforçando a necessidade de manter as medidas de proteção.
"As vacinas serão administradas no Serviço Nacional de Saúde (...) gratuitas e facultativas", devendo ser dadas a todas as pessoas que tenham orientações para as tomar. Portugal vai comprar mais de 22 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, o que representa um custo de 200 milhões de euros, disse ainda a ministra da Saúde.
Questionada sobre a hipótese de a vacina ser dada nos centros de saúde ou em grandes centros de vacinação menos descentralizados, Marta Temido disse apenas que seria através do SNS, apontando dois cenários possíveis.
"Um primeiro momento em que haverá um contexto de maior escassez no acesso a vacinas e, portanto, também à semelhança daquilo que outros países têm estado a planear será um cenário mais controlado, mas depois admitimos que ao longo do ano de 2021 passemos para um cenário de maior abrangência com mais doses disponíveis e também maior expansão dos pontos de administração", explicou.
“Num cenário extremo de final de ano é equacionável que haja uma distribuição muito mais descentralizada do que num momento inicial”, realçando também que o processo de vacinação será longo e que os portugueses não se poderão "afastar das regras" a que se têm habituado em tempo de pandemia.
Apesar de admitir que as primeiras vacinas possam estar disponíveis nas primeiras semanas de 2021, caso a candidata da Pfizer/BioNTech seja já aprovada pela Agência Europeia do Medicamento (EMA) na reunião agendada para 29 de dezembro, a ministra ressalvou que essa disponibilização depende de vários fatores.
“Qualquer um dos países da União Europeia só terá vacinas se a indústria farmacêutica as disponibilizar, se a EMA lhes der um parecer favorável – porque acima de tudo estão questões de segurança, de efetividade e de qualidade – e de acordo com aquilo que seja a chegada que as próprias companhias farmacêuticas fazem acontecer a cada um dos países dos seus produtos”, descreveu.
Sobre o plano que será apresentado pelo primeiro-ministro, António Costa, a ministra da Saúde disse que será definido um ponto central de distribuição das vacinas para outros pontos secundários, mas algumas empresas farmacêuticas também se disponibilizaram para as fazer chegar aos pontos de vacinação.
Marta Temido falava esta tarde no Palácio da Ajuda, em Lisboa, já depois de se saber que quer a ministra, quer os secretários de Estado da Saúde testaram negativo para o SARS-CoV-2, após o anúncio de que a diretora-geral da saúde, Graça Freitas, está doente com covid-19.
A equipa responsável pelo plano está a trabalhar com as farmacêuticas por trás da vacina, para avaliar também a logística interna da vacina, tendo ainda em conta a especificidade das regiões autónomas, acrescentou ainda a ministra da Saúde na conferência desta quarta-feira.
A discussão sobre a vacina contra a doença descoberta no final do ano passado na China cresce à medida que são anunciados avanços nas soluções em desenvolvimento. O Reino Unido anunciou esta quarta-feira a aprovação da vacina do consórcio Pfizer/BioNTech (Estados Unidos e Alemanha), começando a sua distribuição pelos grupos de risco na próxima semana. Todavia, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que mesmo as pessoas mais vulneráveis só devem estar todas vacinadas na primavera de 2021, apelando ao realismo.
Em declarações ao Observador, o presidente da República apelou no mesmo sentido, alertando que a aprovação de uma vacina não representa o fim imediato das medidas de proteção da pandemia. Marcelo Rebelo de Sousa não quer "ilusões" e avisa que "vacinar portugueses vai levar muitos meses".
A Pfizer já disse que conseguirá disponibilizar a vacina em Portugal três dias após a aprovação pela Agência Europeia do Medicamento. A entidade comunitária deverá anunciar uma decisão sobre esta vacina a 29 de dezembro.
Marta Temido realçou que o processo de vacinação será longo e que os portugueses não se poderão “afastar das regras” a que se têm habituado em tempo de pandemia.
A reunião de hoje teve também a participação dos membros da task force criada para elaborar o plano de vacinação e que é liderada pelo antigo secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos.
Participaram ainda os ministros de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, da Saúde, da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, assim como o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Tiago Antunes.
Portugal contabiliza pelo menos 4.645 mortos associados à covid-19 em 303.846 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde.
Na terça-feira, em entrevista à rádio Observador, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou que o plano nacional de vacinação contra a covid-19 vai ser apresentado na quinta-feira e rejeitou que Portugal esteja atrasado em relação a outros países por considerar que o país está “bem a tempo”. António Costa assegurou que Portugal começou a trabalhar neste plano praticamente desde o início da pandemia e que fez a encomenda máxima por cada lote a que tinha direito, estando o plano logístico “a ser montado e a ser trabalhado”.
Farmácias estão disponíveis para integrar o plano de vacinação
As organizações representativas das farmácias manifestaram hoje a sua disponibilidade para contribuírem para a vacinação dos portugueses contra a covid-19, considerando que cabe ao ministério da Saúde “fazer esta opção”.
“Seria incompreensível que Portugal, tendo uma das melhores redes de Farmácias da Europa, com três farmacêuticos, em média, por farmácia, com mais de 5.000 farmacêuticos habilitados para administrar a vacina, não utilizasse esta capacidade instalada para executar o Plano de Vacinação covid-19”, refere a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, a presidente da Associação de Farmácias de Portugal e o presidente da Associação Nacional das Farmácias.
Segundo o comunicado conjunto, os farmacêuticos estão “cientificamente preparados para vacinar” e administram, anualmente, mais de “um milhão de vacinas e injetáveis” no país.
Para estas três entidades, os profissionais das farmácias “lideram com absoluta competência” o processo de distribuição e armazenamento de medicamentos, que, no caso da vacinação covid-19, implica “condições especiais de frio e segurança, bem como uma infraestrutura adequada para garantir a administração, em alguns casos de duas doses, num curto espaço de tempo”.
“Devemos observar o que se está a fazer noutros países, como o Reino Unido, os Estados Unidos, a Irlanda, o Canadá e a Austrália, que já integraram ou estão em processo de integração dos farmacêuticos comunitários no plano de vacinação covid-19, através das suas redes nacionais de Farmácias”, alegam.
“Cabe a quem coordena esta complexa operação no Ministério da Saúde fazer esta opção”, adianta o comunicado assinado por Ana Paula Martins, Manuela Pacheco e Paulo Cleto Duarte.
CDS defende um plano “credível, responsável” e que “dê segurança” aos portugueses
O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, defendeu hoje que o plano nacional de vacinação contra a covid-19, que será conhecido na quinta-feira, deve ser “credível, responsável” e deve dar “segurança” aos portugueses. Em declarações à agência Lusa no final de uma reunião com a Associação dos Deficientes das Forças Armadas, em Lisboa, o líder centrista começou por dizer que “a ausência de uma plano de vacinação é o sinal exterior mais grave de desnorte deste Governo”.
O executivo de António Costa “está numa corrida contra o tempo e que ainda não foi capaz de fazer, por falta de planeamento e de previsão, aquilo que os nossos congéneres internacionais, como a Alemanha, França, Reino Unido, Espanha e a Holanda já fizeram”, afirmou.
“Estes atrasos podem custar vidas, e neste momento temos que exigir ao Governo um plano credível, responsável, previsível e que dê segurança aos portugueses, porque nenhum dos países responsáveis está neste momento de braços cruzados à espera de uma decisão global por parte da Europa, só Portugal”, salientou.
Na ótica do presidente do CDS-PP, Portugal deve ser “mais célere e não repetir o absoluto fracasso daquilo que foi a vacinação para a gripe”.
Por isso, os centristas querem saber “com exatidão e com rigor qual é este plano, a previsibilidade, a segurança e as pessoas prioritárias que vão ser destinatárias das vacinas, onde os idosos naturalmente têm que figurar num primeiro lugar”. Francisco Rodrigues dos Santos considerou que “é fundamental” perceber “o plano logístico para atribuição e administração das vacinas”, bem como identificar “os grupos alvo prioritários”, e insistiu que “os idosos têm que figurar logo no primeiro lugar”.
“Estamos a menos de um mês, e o CDS exige ao Governo respostas concretas, porque um cidadão português não pode ser menos do que um cidadão alemão, francês, espanhol, inglês, e a verdade é que até agora não temos respostas: Como, quanto e quando é que vamos ter vacinas”, acrescentou.
Para o líder do CDS, será “um erro clamoroso, que corre ao arrepio de toda a literatura científica e dos conselhos que vamos ouvindo dos especialistas” se os idosos não forem incluídos nos grupos prioritários para receberem a vacina contra a covid-19.
Francisco Rodrigues dos Santos apontou igualmente que este tema é mais um exemplo de que o Governo de “não saber gerir crises”, pois “tem muita habilidade comunicacional em tempos de facilidade” mas “é péssimo na adversidade”.
(Artigo atualizado às 21:05)
Comentários