“É possível que tenha sido causado por negligência ou por uma ação externa, com um míssil ou uma bomba”, declarou o chefe de Estado do Líbano num encontro com jornalistas transmitido pela televisão, três dias após a catástrofe que causou 154 mortos e milhares de feridos.
Trata-se da primeira vez que um responsável libanês evoca uma pista externa no caso das explosões, que as autoridades libanesas têm atribuído a um incêndio num entreposto onde se encontravam armazenadas cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio.
O chefe de Estado, 85 anos, adiantou ter pedido na quinta-feira “pessoalmente” ao Presidente francês, Emmanuel Macron, que recebeu no palácio presidencial, “para fornecer imagens aéreas para que se possa determinar se havia aviões no espaço (aéreo) ou mísseis” na altura da explosão na terça-feira.
“Se os franceses não dispuserem dessas imagens pediremos a outros países”, adiantou.
Por outro lado, Aoun rejeitou qualquer investigação internacional sobre o assunto, considerando que isso apenas “enfraqueceria a verdade”.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos pediu hoje uma investigação independente às explosões, insistindo que “os pedidos de responsabilização das vítimas devem ser ouvidos”, depois de Emmanuel Macron ter apelado na quinta-feira a um inquérito internacional “transparente”.
O Presidente libanês concordou, contudo, com o seu homólogo francês que apelou aos responsáveis do Líbano para “mudarem o sistema”.
“Enfrentamos uma revisão do nosso sistema consensual, porque está paralisado e não permite que sejam tomadas decisões que possam ser aplicadas rapidamente: devem ser consensuais e passar por várias autoridades”, disse Aoun, criticado por grande parte da opinião pública libanesa, ainda mais desde as devastadoras explosões no porto da capital libanesa.
Sobre a existência de 2.750 toneladas de nitrato de amónio no porto da cidade, Aoun disse ter sido informado do assunto no dia 20 de julho e acrescentou ter "ordenado imediatamente" as autoridades militares e de segurança para fazerem o que fosse necessário.
Sem avançar mais pormenores, o Presidente disse que vários governos desde 2013 receberam avisos sobre o material.
O Líbano vive uma crise económica séria - marcada por uma desvalorização sem precedentes da sua moeda, hiperinflação, despedimentos em massa -, agravada pela pandemia do novo coronavírus, que obrigou as autoridades a confinarem a população durante três meses.
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