"Neste momento, como foi verificado em vários estudos do Plano de Gestão de Região Hidrográfica, continuamos a ter bastantes rios com uma qualidade da água inferior à desejada nas normas da Diretiva Quadro da Água”, indicou o engenheiro ambiental, em entrevista à Lusa, referindo-se ao instrumento da União Europeia que estabelece ações para proteção das águas.
Embora os casos mais recentes e mediáticos de poluição estejam associados ao rio Tejo, referiu, existem "pontos negros pelo país fora, com problemas recorrentes", provocados pelas indústrias, pelas estações de tratamento de águas residuais (ETAR), pelas explorações agrícolas e pelos aglomerados habitacionais.
"Quando os rios passam pelas cidades, vilas e aldeias ficam piores do que estavam antes, o que significa que os sistemas de saneamento também ainda não estão nos níveis aceitáveis", explicou o investigador do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), da Universidade do Porto.
No entanto, apesar "ainda não ser o suficiente", o especialista reconhece que os rios registaram melhorias significativas ao longo da última década, devido sobretudo aos investimentos nas ETAR e às exigências da população, que está mais informada e que quer utilizar os rios como espaços balneares.
"Se há mais de 10 anos encontrávamos rios quase completamente mortos, neste momento esses cenários só acontecem em situações limite, relacionados com descargas pontuais”, notou, dando conta de uma melhoria progressiva.
No entanto, se hoje em dia é possível dizer que há água em boas condições e de excelente qualidade quando se abre a torneira, ainda não se pode dizer que os rios portugueses estejam no mesmo nível: “Muitas das mesmas ETAR e dos sistemas de tratamento não conseguem dar essa garantia", salientou o investigador.
Além da poluição proveniente da utilização doméstica e industrial, o especialista destacou o papel das práticas agrícolas intensivas - como as pecuárias - em zonas "já conhecidas", como o rio Liz e a ribeira dos Milagres, em Leiria.
De acordo com Pedro Teiga, as zonas mais problemáticas nesta matéria localizam-se na Grande Lisboa e no Grande Porto, locais onde as linhas de água e as ribeiras se encontram "em pior estado", devido ao facto de estarem entubados ou à ineficácia dos sistemas de saneamento.
"São poucas as grandes cidades que não têm problemas de saneamento" e "poucos os sistemas que eu conheço que, em 365 dias do ano, estejam a funcionar corretamente, de dia e de noite", indicou.
As zonas menos críticas, continuou o especialista, são aquelas que ainda não sofreram grandes impactos e nas quais as pressões nas margens dos rios e nas utilizações são menores, como é o caso do Gerês, do Alvão-Marão, da serra da Estrela e dos sistemas montanhosos da Lousã.
"O meu desejo é que todos os rios em Portugal atinjam um nível de qualidade que garanta que qualquer criança, político ou pessoa que viva na sua envolvente - seja aldeia ou cidade - se possa aproximar, molhar os pés e, se mandar um mergulho e beber um pirulito, possa ter a segurança de que não vai parar ao hospital por estar doente", afirmou Pedro Teigo.
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