Estas posições foram hoje defendidas por Porfírio Silva, membro do Secretariado Nacional do PS, durante a reunião da Comissão Política do seu partido, numa intervenção em que disse concordar com o líder socialista, António Costa, de que a prioridade deste partido "deve ser a recuperação económica e social do país", ressalvando que, para isso, são necessárias condições políticas.
No seu discurso, segundo membros da Comissão Política do PS, Porfírio Silva, também vice-presidente da bancada socialista, pronunciou-se sobre os riscos de um crescimento da extrema-direita nas próximas eleições presidenciais.
"E pior do que isso só pode ser outra coisa: Que na área do PS só esteja disponível um candidato populista, sem histórico de um programa de esquerda articulado e coerente, mas com um histórico de confundir a política com corrupção e de pintar o PS como uma associação de malfeitores que já foi liderada por um secretário-geral criminoso. É esse o discurso que podemos ter de engolir durante uma campanha eleitoral vindo do suposto candidato da área do PS", declarou, sem nunca referir o nome da ex-eurodeputada Ana Gomes.
Na sua intervenção, o membro do Secretariado Nacional do PS rejeitou a interpretação de que António Costa já tenha transmitido o seu apoio à recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, discordando também da ideia de que o seu partido pretenda evitar o debate interno sobre as eleições presidenciais.
"Compreendo que não há neste momento nenhuma solução evidente para o posicionamento do PS nas próximas eleições presidenciais, mas temos de pensar no próprio sistema democrático. Se o PS apoiar Marcelo [Rebelo de Sousa] nas próximas presidenciais, declaradamente ou por não se posicionar, essa situação vai introduzir novos desequilíbrios importante no nosso regime democrático", sustentou.
Na perspetiva de Porfírio Silva, "se não aparecer nenhum candidato que se reivindique da área do PS, um certo número de eleitores socialistas vai votar em candidatos apoiados por outros partidos de esquerda".
"Esses votos não elegerão ninguém, mas criarão, se o BE e o PCP arranjarem bons candidatos, uma aproximação do nosso eleitorado a eleitorados concorrentes. Alguns gostarão disso, outros não, mas isso é o que acontecerá", apontou.
Já se o atual chefe de Estado for o candidato "de todos os partidos que alguma vez lideraram um Governo, criando a expectativa de uma votação esmagadora", então, neste caso, segundo Porfírio Silva, abrir-se-á "um novo espaço à direita mais à direita".
"Oferecemos à extrema-direita o bónus de ser a principal novidade das eleições presidenciais, oferecemos-lhe o palco da campanha. É disso que vivem os movimentos antissistema, ganharem o palco suficiente para parecerem decisivos e aglutinarem toda a espécie de ruturas fragmentárias com o que dizem ser a elite no poder", avisou.
Esta situação, na opinião do membro da direção do PS, "não será boa para o PSD", mas o PS não deve ficar contente com isso.
"Não devemos ficar contentes com isso, porque prejudica a capacidade do PSD para ser uma alternativa decente de Governo quando chegar a sua vez. O passismo e a amálgama de radicalismos de direita que sempre namoraram o passismo - e que anda por aí - será vingado pelo venturismo ou por algum radicalismo de direita criado nessa amálgama. Deixar [André] Ventura à solta é oferecer-lhe os deserdados do passismo para uma reconfiguração da direita com vetores radicais mais agressivos", defendeu.
Porfírio Silva admitiu depois que em nenhum cenário o deputado do Chega André Ventura ganhará as eleições presidenciais.
"Mas aproveitará a oportunidade para criar um foco federador de uma direita mais radical que perturbará o espaço do PSD e poderá puxar o PSD para a direita. Já vimos noutros países o preço que tem pensar que a extrema-direita é útil para enfraquecer a direita democrática", acrescentou.
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