Em resposta a questões enviadas pelo SAPO24, o Núcleo de Imprensa e Relações Públicas do Comando Metropolitano da PSP do Porto, apesar de não esclarecer a data em que foi feito o auto, confirma “a instrução de um processo de averiguações” pela "não participação imediata da ocorrência”.
Esta quinta-feira, o jornal ‘Público’ avançava que o auto do incidente só foi feito três dias após o incidente num autocarro da STCP, envolvendo uma jovem de 21 anos e um fiscal da empresa de segurança privada 2045, ao serviço da transportadora portuense.
O auto terá sido feito já depois de a jovem colombiana, a residir desde os cinco anos em Portugal, ter apresentado queixa, na PSP da Corujeira. Nicol Quinayas queixa-se da ação da PSP, que, quando chamada à rua do Bolhão, na madrugada do dia 24 de junho, não a identificou ou pediu esclarecimentos sobre o que se tinha passado.
"Só vi três polícias. Dois deles ficaram à beira do segurança, enquanto ele fumava um cigarro, como se estivesse na pausa dele; outro ficou à minha beira — sempre de capacete", contou a jovem em entrevista ao SAPO24, logo no dia 26.
Depois de perguntar a este agente por que razão a ambulância ainda não tinha chegado, o polícia terá olhado a rapariga "de cima a baixo" e dito, "da forma mais arrogante e fria possível": "olhe, menina, você está à espera da ambulância. Mas se estiver preocupada com as horas, pode ir embora”.
"Eu estava com a cara encharcada de sangue, os lábios inchados, o nariz inchado e o polícia diz-me isto: 'pode ir para casa se quiser'", conta Nicol. "Ainda estive algum tempo à espera da ambulância, mas [os três agentes] em algum momento me perguntaram o nome, não me identificaram, não me perguntaram o que tinha acontecido — e não tiraram o capacete", acrescenta.
"E eu posso juntar as peças. Ele é segurança, os seguranças vivem da noite, o que não lhes falta é contactos. A forma como a polícia me tratou... Eles não fazem isto a um criminoso, porque sabem que um criminoso é mau; sabem que um criminoso tem força, tem maldade e pode fazer algo, têm medo. A forma como a polícia me tratou, parecia que eles o conheciam”, afirma Nicol. “E depois eu junto as coisas: não tiraram o capacete, não queriam ser identificados”
A Inspeção Geral da Administração Interna abriu esta sexta-feira um processo para esclarecer este caso junto da PSP. Numa nota enviada às redações, o Ministério da Administração Interna (MAI) diz que o ministro Eduardo Cabrita "não tolerará fenómenos de violência nem manifestações de cariz racista ou xenófobo".
Depois de Nicol Quinayas ter sido violentamente agredida e insultada na madrugada de domingo, vários partidos políticos vieram condenar a agressão e exigir explicações ao Governo. Também a SOS Racismo condenou a agressão à jovem.
"Na sequência das questões suscitadas hoje por vários partidos parlamentares, relativas a uma ocorrência envolvendo uma cidadã colombiana no Porto, o Ministério da Administração Interna informa que, através da Inspeção Geral da Administração Interna, foi aberto um processo administrativo, que visa o esclarecimento da situação junto da Polícia de Segurança Pública", refere a nota do MAI. O ministério acrescenta ainda que se encontra "em processo legislativo as alterações à Lei da Segurança Privada".
Já a empresa de segurança privada 2045 revelou ter iniciado um processo de averiguações interno relacionado com a agressão.
Em resposta a perguntas enviadas pelo SAPO24, a 2045 limita-se a confirmar a "ocorrência na [empresa] STCP do Porto, na noite de São João, pelas 05:30/06:00", e acrescenta que esta "foi comunicada à PSP, que esteve presente no local". “O processo de averiguações interno está a decorrer", indica a empresa, não adiantando quando o concluirá.
Sem nunca mencionar a acusação de "motivações racistas" avançada pela agredida, a 2045 refere, no entanto, ter "cerca de 3.000 funcionários, entre vigilantes e colaboradores da estrutura", que incluem "elementos de várias etnias", assegurando não haver "qualquer tipo de discriminação de nacionalidade, religião, raça ou género".
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