Em causa está o projeto “Intercâmbio para a segurança rodoviária” da Comissão Europeia, hoje lançado em Bruxelas, no âmbito do qual especialistas portugueses desta área vão, até 2021, trocar ideias com técnicos de outros Estados-membros como Áustria, Bulgária, França, Grécia, Irlanda, Lituânia, Holanda, Polónia, Roménia, Espanha e Suécia.
“Os países comunitários têm uma realidade diferente [na área da segurança rodoviária] - os países do sul têm uma realidade, os países do norte têm outra” - e, por isso, “vamos trocar boas práticas”, afirmou à agência Lusa, em Bruxelas, o presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), Rui Ribeiro.
Alertando que, todos os anos, as mortes na estrada em Portugal equivalem a “três aviões cheios de gente”, o responsável precisou que, neste projeto europeu, o país vai trabalhar diretamente com a Irlanda e a Suécia.
“Nós vamos trabalhar, por exemplo, com a Irlanda na questão do álcool e das drogas, que é uma questão que nos preocupa bastante”, indicou Rui Ribeiro.
Aludindo a dados da ANSR, o responsável indicou que, nos últimos 15 anos, a percentagem de pessoas com álcool no sangue que morreram em acidentes rodoviários baixou de 40% para 30%, mas notou que, em sentido inverso, o número de vítimas mortais com droga no sangue duplicou, o que a seu ver “é uma preocupação”.
“Vamos também trabalhar com a Suécia, um país tradicionalmente dito como seguro, nas áreas da condução em meio urbano, tendo em particular foco as infraestruturas e o controlo de velocidade em meio urbano”, assinalou Rui Ribeiro.
Para escolher os 12 países que integram o projeto, o executivo comunitário teve em conta aqueles onde a sinistralidade é maior, mas também a vontade política para melhorar estes dados e o potencial para tal.
Dentro destes, Portugal é, ainda assim, o que tem apresentado mais melhorias.
“Portugal foi dos países da Europa com maior sucesso na redução das vítimas mortais nos últimos 20 anos. Em 1996, tínhamos 2.100 vítimas mortais, em 24 horas, por ano e agora temos 508, em 2018”, referiu Rui Ribeiro, falando numa “redução dramática”.
Porém, continuou, “qualquer vítima mortal, é uma vítima mortal a mais na estrada”, pelo que não se pode “ter esta sensação de ser um fatalismo ir para a estrada e, inevitavelmente, haver mortes”.
“É [uma questão que é] da nossa responsabilidade – desde os governantes, até aos condutores e aos peões e aos construtores das infraestruturas – e deve ser abordada como um problema nacional”, vincou.
Para o presidente da ANSR, urge, assim, adotar medidas como colocar “sinalética consequente nas zonas de mais intensidade de acidentes”, garantir uma “intervenção imediata na infraestrutura”, bem como criar “ciclovias bem construídas, dentro do meio urbano, cumprindo as regras de segurança”.
Até 2030, os Estados-membros comprometeram-se a reduzir em metade o número de mortos e feridos graves na estrada.
Em Portugal, o relatório anual de segurança rodoviária de 2018 indica que se registaram 34.235 acidentes com vítimas, de que resultaram 508 mortos (no local do acidente ou durante o transporte até ao hospital), 2.141 feridos graves e 41.356 feridos ligeiros.
Em relação a 2017, a ANSR sublinha que se registaram menos 181 acidentes com vítimas (-0,5%), menos duas vítimas mortais (-0,4%), menos 57 feridos graves (-2,6%) e menos 431 feridos leves (-1,0%).
O relatório de 2018 da ANSR relativo aos mortos a 30 dias, indica, no entanto, que se registaram 675 vítimas mortais, o número mais elevado desde 2012.
Em relação a 2017, o número de mortos a 30 dias aumentou 12,1% no ano passado, mais 73 vítimas mortais.
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