O primeiro assunto em análise foi a resposta à pandemia de covid-19, tendo a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda (BE) defendido que é "irresponsável não fazer tudo" para tentar conter os novos contágios diários, que estão na casa dos 10 mil, que repetiu mais à frente.
Quanto à declaração do estado de emergência, Marisa Matias disse ser favorável, e assinalou que não existe outro quadro legislativo que permita enquadrar as respostas necessárias, mas criticou que nesta situação de exceção esteja “a falhar" a "resposta social e os apoios económicos".
Já o candidato que é apoiado pela Iniciativa Liberal, partido que está contra o estado de emergência, defendeu que "o país não aguenta um novo confinamento generalizado", e apontou que o primeiro-ministro também reconheceu isso.
"Se o primeiro-ministro está agora a mudar de opinião é porque algo de muito grave se passa, e eu quero tentar perceber isso", afirmou, pelo que vai aceitar o convite de participar na sessão com epidemiologistas sobre a evolução da pandemia, na terça-feira.
Se a situação apresentada for “um cenário de guerra”, aí “naturalmente que a situação é distinta”, e isso significa que este Governo “falhou redondamente na gestão da pandemia” e que será necessário “correr atrás do prejuízo” com recurso a “medidas mais robustas”, salientou o candidato a Presidente da República.
Ao longo dos 30 minutos que durou o frente a frente, na SIC Notícias, os dois candidatos apenas convergiram na necessidade de apoios no caso de um novo confinamento.
Tiago Mayan Gonçalves pediu ao Governo que assuma responsabilidades caso as novas medidas de combate à pandemia impliquem que as empresas tenham de fechar, e defendeu que "tem que indemnizar direta e indiretamente essas atividades".
"Pedimos às pessoas o confinamento, pedimos medidas exigentes, e temos que dar às pessoas condições para que elas possam cumprir essas medidas exigentes", assinalou Marisa Matias.
Num comentário à proposta do adversário, a bloquista apontou que esta é “uma perspetiva muito mais socialista da sociedade” e instou Mayan "a decidir qual é a opção que quer, porque está permanentemente em contradição".
Também no que toca à saúde, os adversários não se encontraram, porque, enquanto a dirigente bloquista defendeu a aposta no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o recurso a meios privados pagos "a preço de custo", o candidato liberal classificou a proposta da eurodeputada "impossível", uma "ficção jurídica" e defendeu que os cidadãos devem poder escolher o setor a que querem recorrer.
As divergências entre os dois foram visíveis também no que toca à legislação laboral, com Tiago Mayan Gonçalves a assinalar que as políticas atuais, que "não são liberais", resultaram em emigração e baixos salários, enquanto Marisa Matias destacou as medidas implementadas pelo último Governo, que contou com o apoio parlamentar do BE.
Houve ainda tempo para falarem da TAP, tendo a candidata apoiada pelo BE advogado ser “uma empresa nacional importante, fundamental”, e Tiago Mayan Gonçalves defendido que “o Estado tem de deixar de ser acionista” da transportadora aérea, que deve seguir “o seu caminho”.
O facto de estarem em planos opostos levou a candidata a comentar, numa das oportunidades para rebater os argumentos contrários, não saber "por que diferença começar".
As eleições presidenciais, que se realizam em plena epidemia de covid-19 em Portugal, estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
A campanha eleitoral decorre entre 10 e 22 de janeiro, com o país a viver sob medidas restritivas devido à epidemia. Concorrem às eleições sete candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP), Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).
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