Sublinhando que Portugal seria “muito afetado” com uma redução do orçamento comunitário pós 2020, Marcelo Rebelo de Sousa disse, no encerramento do seminário "Água, Um Recurso Estratégico", promovido pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que o país “ganharia” em “travar e ganhar” esta batalha “o mais cedo possível”, não deixando para depois das eleições europeias e “para a nova Comissão uma definição cheia de imponderáveis e de incógnitas”.
O Presidente apontou como “cruciais” as próximas semanas, até à cimeira de junho, lembrando que, antes disso, estará em Santarém a participar precisamente num encontro que tem esse assunto por tema, e que decorrerá no âmbito da Feira Nacional da Agricultura (de 02 a 10 de junho).
Marcelo Rebelo de Sousa recordou que o debate a travar em Bruxelas é essencial para o investimento público e privado também no domínio da agricultura e que o “tipo de linguagem, de discurso, de expectativas” serão “completamente diferentes” conforme o seu desfecho.
Para o Presidente, o debate em Bruxelas pode não ser “tão intenso e apelativo” como o que é feito na Assembleia da República e na confrontação entre Governo e oposições, “mas, neste momento, é mais importante para muitos efeitos, mais urgente”.
Marcelo Rebelo de Sousa falou depois de ouvir o presidente da CAP, Eduardo de Oliveira e Sousa, a considerar “imperioso” que se crie no país uma ‘task force’ em torno das questões da água e a “lançar o desafio” da “construção de uma visão” para o setor, “uma estratégia a 30 ou mesmo a 50 anos”.
Pedindo o patrocínio do chefe de Estado para este “compromisso nacional”, Oliveira e Sousa afirmou que a CAP quer encontrar “uma solução para Portugal” em conjunto com os outros setores da economia, com os organismos oficiais e com as Universidades.
Marcelo Rebelo de Sousa disse aos cerca de 300 participantes no seminário que juntou especialistas de várias áreas que a reflexão sobre o armazenamento de água “não é apenas um assunto do mundo agrícola”, pois afeta o abastecimento das populações e é negativo para outros setores, como a indústria e o turismo.
Defendendo que “não é por haver agora algumas albufeiras mais cheias” que o debate deve esmorecer, o Presidente apelou a que se comece já a preparar o futuro, sendo “crucial armazenar e reter a água das chuvas e dos rios”, para enfrentar os períodos em que ela falta.
Para o chefe de Estado, é preciso uma “visão nacional transversal”, reconhecendo, contudo, a dificuldade em “converter princípios em orgânicas, estruturas e processos”.
Marcelo Rebelo de Sousa exortou ainda a que se aproveite a “relação excelente” existente atualmente com Espanha para uma “articulação cada vez mais intensa”, no âmbito dos acordos existentes entre os dois países para gestão dos rios transfronteiriços.
Considerando que “a escassez de água não é uma fatalidade”, o Presidente admitiu que, “mais cedo ou mais tarde virá a discutir-se a viabilidade económica e financeira, ou não, da construção de centrais de dessalinização modernas, eficientes e geradoras de energia ou a pensar-se ainda com mais profundidade na criação de reservas de água em pontos vitais do território nacional”.
O seminário realizado hoje pela CAP nas instalações do Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA) debateu, ao longo do dia, questões como a gestão dos recursos hídricos, a importância das águas subterrâneas ou o uso da água para a agricultura, tendo sido apresentado o Projeto “Mais Tejo”, que prevê a construção de pontos de retenção de água neste rio.
À tarde, António Carmona Rodrigues, da Universidade Nova de Lisboa, moderou uma mesa redonda sobre como "Conciliar usos múltiplos dos recursos hídricos", que contou com representantes da Águas de Portugal, da indústria, do turismo, da agricultura, da EDP e da Liga para a Proteção da Natureza.
Comentários