A visita de Xi Jinping vem antecipar o arranque do ano da China em Portugal e preparar a comemoração de 40 anos de relações diplomáticas entre os dois países.
A visita foi anunciada em junho por Marcelo Rebelo de Sousa, que classificou o encontro como “muito importante” e um espelho da “capacidade de diálogo e de entendimento” entre os dois países.
Xi Jinping vai reunir-se com o homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, e com o primeiro-ministro, António Costa.
O Presidente da República Popular da China vem acompanhado da primeira-dama, Peng Liyuan, e de uma extensa delegação, que inclui o membro do Gabinete Político do Comité Central do Partido Comunista Chinês, Yang Jiechi, o ministro dos Negócios Estrangeiros e Conselheiro de Estado, Wang Yi, e o presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma - o órgão máximo de planeamento económico do país -, He Lifeng.
Numa nota publicada no site da Presidência da República Portuguesa, pode ler-se que o programa desta visita de Estado "ilustra a proximidade e a partilha entre os povos português e chinês ao longo de cinco séculos de História e o modo como têm sabido explorar plenamente o enorme potencial que a Parceria Estratégica luso-chinesa encerra, em benefício dos dois povos".
No âmbito desta visita oficial, está prevista a assinatura de um total de 19 instrumentos legais que "culminam um processo de intensa negociação bilateral em áreas que vão da Cultura à Ciência e da Agroindústria ao Comércio", refere a nota.
Para as 11:00 desta terça-feira está marcada a cerimónia oficial de boas-vindas a Xi Jinping, na Praça do Império, perto do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, seguindo-se a deposição de uma coroa de flores no túmulo de Luís Vaz de Camões.
O Presidente chinês chegará pelas 16.00 ao Palácio de Belém, onde irá assinar o livro de honra e reunir-se com Marcelo Rebelo de Sousa.
Ao final do dia, o chefe de Estado português oferece um jantar a Xi Jinping no Palácio Nacional da Ajuda.
A última vez que um chefe de Estado chinês visitou Portugal foi em novembro de 2010, quando o então Presidente Hu Jintao esteve em Lisboa.
Uma história de intensificação de visitas de Estado e das relações bilaterais
O primeiro chefe de Estado chinês a visitar Portugal foi Li Xiannian, em 1984, dez anos depois da instauração da democracia e nove anos depois de o governo português ter reconhecido o governo da República Popular da China, em janeiro de 1975.
Já a primeira visita de um Presidente português à China aconteceu no ano seguinte, quando, em 1985, Ramalho Eanes se deslocou a Pequim, com a pasta da adesão de Portugal à CEE [Comunidade Económica Europeia] na bagagem e a atrair a atenção dos dirigentes chineses.
Outro dos temas discutidos nos encontros entre Li Xiannian e Ramalho Eanes foi Macau, tendo a declaração sino-portuguesa para a retoma do exercício da soberania chinesa naquele território sido assinada em 1987.
A segunda visita de um chefe de Estado português à China aconteceu com Mário Soares, em 1995. Para além de inaugurar o aeroporto internacional de Macau, o Presidente português antecipou a visita do seu sucessor, Jorge Sampaio, em 1997, e a visita de Jiang Zemin a Portugal, em 1999.
Jiang Zemin deslocou-se a Lisboa no ano da transferência de soberania de Macau para a República Popular da China e trazia já o plano de investimentos chineses em Portugal na agenda, num momento em que a economia do país asiático revelava uma forte aceleração e se preparava para tempos de expansão internacional.
A criação do Fórum Macau (2003) e a assinatura do Acordo de Cooperação Económica (2005), durante uma visita do Presidente Jorge Sampaio à China, foram marcos desses novos tempos de cooperação económica intensiva que desembocaram na Parceria Estratégica Global, assinada em 2005.
Em 2007, uma visita de José Sócrates, então primeiro-ministro português, à China permitiu assinar vários acordos comerciais e preparou a visita de Estado do Presidente Hu Jintau a Portugal, em 2010, que viria a marcar o início de uma etapa de fortes investimentos chineses.
No ano seguinte, a empresa China Three Gorges comprou 21% da EDP ao Estado português – o maior investimento chinês de sempre em Portugal –, inaugurando uma intensa fase de investimento que se prolongou nos anos seguintes.
O negócio da China Three Gorges foi na altura impulsionado pelos conselheiros da "troika" e, em particular, pelo Governo alemão, interessado em ver países com dificuldades financeiras a atrair investimento fora da União Europeia, como na altura foi assumido pela chanceler Angela Merkel.
Desde a última visita de um chefe de Estado chinês até hoje, para além da compra de participação chinesa na EDP (2011), assistiu-se ainda à aquisição de participações da State Grid na REN e a investimentos chineses avultados em operações da Galp (2012), abertura de balcões do Bank of China e aumentos substanciais das exportações de Portugal para a China.
Quando, em 2016, o então primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, fez uma paragem técnica nos Açores e foi recebido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, o balanço de todos estes investimentos foi abordado no breve encontro, assim como a visita do primeiro-ministro António Costa à China, que se realizaria ainda esse ano.
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