A visita oficial de Umaro Sissoco Embaló a Portugal começou de manhã, com um encontro com o seu homólogo, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém.
Frente a este palácio, cerca de meia centena de apoiantes de Sissoco Embaló dançavam e entoavam palavras de apoio ao chefe de Estado da Guiné-Bissau, com uma indumentária alusiva a esta visita oficial, em que se podiam ver os rostos dos dois chefes de Estado em t-shirts.
O rosto de Umaro Sissoco Embaló também estava estampado nos tecidos dos vestidos de algumas guineenses, bem como em posters alusivos às eleições presidenciais.
Aramata Bié quase que ficava sem voz a gritar o seu apoio a Sissoco. Com o rosto do Presidente guineense estampado no tecido do seu vestido comprido, enalteceu a juventude do chefe de Estado, mostrando-se confiante em que este vai mudar a Guiné-Bissau.
“É um Presidente jovem, que nasceu junto com a independência, há 47 anos. Cabo Verde nunca pegou nas armas para lutar, a Guiné é que lutou por Cabo Verde e agora eles estão à frente da Guiné-Bissau. A Guiné-Bissau não tem nada. Não tem estrada, tem fome”, disse à Lusa.
Aramata Bié tem uma lista das coisas que gostaria de pedir a Umaro Sissoco Embaló para o seu país: “Saúde, professores, escolas, estradas, vencimentos e a população poder ficar à vontade na Guiné”.
“Os guineenses que cá estão [em Portugal] querem ir à sua terra, mas não vão porque lá está mau”, acrescentou.
A reforçar estas palavras, Zenabu Embaló mostrou-se rendida à “ambição” de Sissoco e crente que ele vai mudar a Guiné-Bissau.
“Os outros [presidentes] só quiseram comer dinheiro, compraram boas casas em Portugal, os seus filhos ficam bem e a população fica mal. Nós não queremos isso”, afirmou, antes de proclamar vários “vivas” ao governante.
Também Mamaiero Embaló está otimista no desempenho de Sissoco e deixa-lhe uma mensagem: “Não deve sentir medo, porque já vimos o sinal que está a dar, de desenvolvimento”.
“A Guiné está muito atrasada em relação aos outros países. Os outros ficaram no Governo durante 47 anos e não fizeram nada”, disse.
Sobre os opositores do Presidente, alguns dos quais a poucos metros de distância, referiu que “querem inverter a verdade eleitoral com trafulhas”.
“Estão a intimidar o nosso Governo para ele não vir fazer o que quer, que é a cooperação. Algumas pessoas não querem sucesso para o país”, acrescentou.
Ao seu lado, Lassanaba também deixou algumas sugestões para o mandato presidencial ser bem-sucedido, nomeadamente a “unidade nacional, o combate à corrupção sem tréguas e a melhoria da vida da população, que é essencial”.
Para este guineense, as pessoas que mais amaram a Guiné-Bissau foram o general António de Spínola, que foi governador militar da Guiné-Bissau em 1968 e em 1972, no auge da guerra colonial, e Umaro Sissoco Embaló.
Lassanaba, que disse ter assistido António de Spínola durante cinco anos, quando este estava na Guiné-Bissau, reconhece que o atual Presidente já “começou a dar sinais que o país está a começar a infraestruturar-se, como aconteceu em Portugal, com o Governo de Cavaco Silva, em que o país começou a infraestruturar-se”.
“É um Governo com uma base sólida parlamentar. Este Governo representa a maioria sociológica do país, representa mais de 85% da população guineense”, acrescentou.
E lança críticas aos antecessores de Sissoco: “A maioria que esteve 47 anos no poder não fez nenhum, só incompetência e corrupção, que conduziram o país ao abismo”.
Mais à esquerda destes manifestantes, um outro grupo com cerca de 30 guineenses mostrava o cartão vermelho ao chefe de Estado da Guiné-Bissau, gritando: “Terrorista, golpista, assaltante”.
“Viemos aqui manifestar a nossa oposição a esta visita. [Sissoco] é um golpista e não um chefe de Estado da Guiné, porque desde 27 de fevereiro assumiu o poder por via da força e se autointitulou de Presidente da República simbólico, apesar do contencioso eleitoral ainda não ter sido decisivo na altura”, afirmou.
Este guineense disse não estar disponível para legitimar este poder e manifestou-se dececionado com o Presidente da República português, que hoje recebeu o seu homólogo guineense.
“Ficámos muito tristes, pela simpatia que temos com o povo português, pelo Presidente da República português e pela cooperação histórica que existe entre Portugal e a Guiné”, acrescentou.
Questionado sobre o impacto destas divergências na comunidade guineense em Portugal, Sana Cante disse que esta “fica dividida”.
“O que está a acontecer aqui é o reflexo do que está a acontecer na Guiné”, disse.
Dionísia Vaz garante que não se vai calar enquanto Sissoco estiver no poder.
“Estou aqui para reivindicar os nossos votos com esse ‘gajo’ – que eu não chamo Presidente — roubou. Ele roubou os nossos votos, queimou-os e autoproclamou-se como Presidente da República”, disse.
Para Dionísia Vaz, Sissoco não passa de “um analfabeto que não sabe nada e um grande terrorista”.
“Ele está a representar o quê? Ele não pode representar nenhum guineense. Ele tinha um contencioso no tribunal e não deixou os juízes pronunciarem-se. Ele não é Presidente, é um analfabeto político”, considerou.
Após deixar Belém, Umaro Sissoco Embaló vai ser recebido na Assembleia da República e depois terá um encontro com o primeiro-ministro, António Costa.
Na sexta-feira, o Presidente guineense participa, com o secretário de Estado da Internacionalização e o presidente do Conselho de Administração da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), numa mesa-redonda com empresários portugueses, no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
O chefe de Estado guineense visita também a sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde vai realizar-se uma sessão solene com todos os representantes dos Estados-membros da organização.
A visita de Umaro Sissoco Embaló a Portugal, a primeira a um país da Europa, ocorre depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, ter realizado em setembro uma visita de trabalho à Guiné-Bissau.
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