“Todas as grandes oportunidades, para nós, estão fora de Portugal. Da perspetiva da minha empresa, nós temos alguns investimentos em curso, e vamos a investir em Portugal cerca de 100 milhões de euros neste ano […], mas nós só continuamos porque somos portugueses”, afirmou o responsável, que falava numa conferência organizada pelo jornal The Economist, em Cascais, Lisboa.

E insistiu: “Se formos ver na perspetiva de crescimento e de retorno, é zero”.

“O que vejo pelos meus colegas [empresários] fora do grupo é que põem o dinheiro onde recebem mais. E em Portugal nós não recebemos [retorno]”, explicou, notando que, “a uma determinada altura, quando a rentabilidade se perde, o investimento deixa de se fazer”.

De acordo com Pedro Soares dos Santos, tem faltado “uma visão estratégica” no país e “não é mudando os governos que esta visão muda”.

“Uma visão estratégica daquilo que queremos ser e onde queremos realmente construir a nossa base de crescimento e a nossa diferenciação enquanto país”, considerou, argumentando que esta falta de visão “tem sido um grande mal para o crescimento”.

Na ótica de Pedro Soares dos Santos, “Portugal podia ser a Califórnia da Europa”, mas, para isso, era necessário um “acordo sobre quais as áreas a investir”.

“Esta falta de vontade de criar riqueza e de olhar para o crescimento como a única forma de o país se desenvolver e de criar estruturas fortes é o que me preocupa mais em Portugal”, acrescentou.

“Nós temos um problema enorme que é nós querermos distribuir riqueza, mas não criamos riqueza. E quando queremos distribuir, começamos a destruir através dos impostos e a destruir as companhias e a criar os tais obstáculos”, reforçou o empresário.

Outra área em que se deve apostar, segundo Pedro Soares dos Santos, é na do mérito.

“Em Portugal não gostamos de discutir a meritocracia, mas é premiando a meritocracia que a gente consegue fazer a diferença entre as pessoas”, adiantou.

Também intervindo no mesmo painel, sobre “A economia: à procura de um 'upgrade'”, o presidente da Confederação Empresarial De Portugal (CIP), António Saraiva, salientou que é necessário “promover o investimento e a atratividade fiscal”.

Apontando que, entre 2013 e 2017, a “banca retirou das sociedades não financeiras qualquer coisa como 42 mil milhões de euros”, o responsável falou numa “dolorosa terapia de desalavancagem”, que tem de ser revertida.

A seu ver, a situação atual “faz com que o pequeno tecido empresarial português tenha sofrido um enorme problema”, pelo que reiterou o apelo ao “acesso ao financiamento para dar condições às empresas”.