“Não foi isso que aconteceu. Isso não existe de forma nenhuma”, afirmou Orlando Rodrigues, em entrevista à Lusa, na cidade da Praia, sobre a tese de possibilidade de as agressões que se revelaram fatais terem tido uma motivação racista.
O dirigente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) está em Cabo Verde para o funeral do estudante, de 21 anos, que morreu em 31 de dezembro, 10 dias após agressões à saída de um bar, naquela cidade.
“Foi um dos nossos a quem aconteceu esta tragédia e, portanto, não podia deixar de vir para dizer um último adeus ao Giovani e para me associar a esta dor coletiva que partilhamos com o povo cabo-verdiano e com a família”, afirmou Orlando Rodrigues.
As alegadas agressões aconteceram na noite de 21 de dezembro, tendo o estudante, natural da ilha do Fogo - onde no sábado decorrem as cerimónias fúnebres – sido transportado de Bragança para um hospital do Porto, onde acabaria por morrer.
A Polícia Judiciária só foi chamada ao caso após a morte do estudante e hoje anunciou a detenção de cinco suspeitos das agressões que se revelaram fatais.
“É verdade que houve algumas falhas. Inicialmente desvalorizou-se, não houve a perceção da gravidade da situação num primeiro momento”, observou Orlando Rodrigues, garantindo que a situação foi depois ultrapassada: “A partir do momento que as autoridades se inteiraram da gravidade foi de imediato posta uma equipa de investigação da Polícia Judiciaria a trabalhar sobre o caso”.
Assegura que Bragança continua a ser “um exemplo de segurança” e que o que aconteceu na noite de 21 de dezembro não passou de uma “rixa seguida de agressão”, cujas “consequências trágicas” foram acidentais.
“Ninguém acredita que os envolvidos esperassem este fim, mas na verdade aconteceu e foi absolutamente excecional, nunca tínhamos tido uma situação deste tipo em Bragança, e nessa medida deixou-nos a todos muito surpreendidos e em choque”, contou.
Garante que o que aconteceu “foi claramente” motivado por “jovens desintegrados socialmente”. “Provavelmente alguns deles [agressores] habituados a pequenos furtos, numa noite de mais copos e numa situação de rixa veio a ter esta consequências”, disse.
No último sábado realizaram-se manifestações pacíficas e vigílias em memória de Luís Giovani, estudante desde outubro no polo de Mirandela do IPB, e a pedir justiça para este caso, incluindo uma que em Bragança juntou mais de 3.000 pessoas. Na Praia, uma manifestação com várias centenas de cabo-verdianos levou à mobilização da polícia para travar protestos à porta da Embaixada de Portugal e da residência oficial da embaixadora portuguesa, por entre acusações de racismo e dúvidas sobre a atuação da polícia portuguesa.
“Descarto por completo essa possibilidade [crime de ódio]”, insistiu Orlando Rodrigues.
“Obviamente há pessoas boas e más em todos os sítios. Mas em Bragança temos a certeza absoluta que não há qualquer tipo de movimento sustentado em base ideológica racista ou de ódio racial. Isso não existe”, acrescentou o dirigente do IPB, instituição que conta com 9.000 alunos, dos quais 1.200 são cabo-verdianos.
Orlando Rodrigues diz estar convicto que os responsáveis pela morte do estudante cabo-verdiano serão “condenados” e assegura que Bragança continua a ser “uma cidade muito segura”, apesar deste caso, “que ninguém imaginaria que pudesse acontecer”.
“As pessoas ficaram muito surpreendidas, muito alertas. É impossível que isto volte a acontecer. Há um profundo afeto da população pelos nossos estudantes cabo-verdianos”, assume o dirigente.
Segundo Orlando Rodrigues, o IPB vai manter o luto institucional até à realização do funeral de Luís Giovani, previsto para sábado, no município de Mosteiros, ilha do Fogo. Está ainda prevista uma homenagem ao estudante cabo-verdiano no dia 28 de janeiro, durante as comemorações do dia do politécnico.
“Vim cá sobretudo para manifestar a nossa solidariedade com a dor da família e do povo cabo-verdiano, porque entendemos que esta dor é partilhada por todos. Por nós, que o considerávamos como filho nosso, nosso aluno, embora há pouco tempo”, concluiu.
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