O autocarro que transportava 50 sudaneses com destino à região da Borgonha partiu menos de uma hora após o início das operações de limpeza do campo, onde se estimam viverem entre seis mil e oito mil pessoas.
Espera-se que as operações de evacuação do campo durem três dias, após os quais o bairro de lata — um dos maiores da Europa — será destruído.
“Estou muito contente, estou farto da ‘selva'”, disse à agência Abbas, de 25 anos, do Sudão, embrulhado num casaco para se proteger do frio.
“Há muita gente que não se quer ir embora. Pode haver problemas mais tarde. É por isso que vim primeiro”, explicou.
O campo, situado num terreno baldio perto do porto de Calais, onde os migrantes estabeleceram acampamentos durante mais de uma década, tornou-se um símbolo da incapacidade de França de resolver a pior crise migratória da sua história pós-guerra.
Agências humanitárias alertaram que alguns migrantes podem resistir a um realojamento e mais de 1.200 agentes foram destacados para prevenir distúrbios.
A polícia lançou gás lacrimogéneo para dispersar migrantes no domingo à noite.
Motins emergiram quando as autoridades francesas destruíram metade do campo em março.
Bashir, de 25 anos, também do Sudão, pôs-se na fila às 04:00 (03:00 em Lisboa), quatro horas antes de o armazém que serve de estação de autocarros abrir. “Qualquer sítio em França será melhor que a ‘selva'”, disse.
O encerramento do campo pretende atenuar as tensões na zona de Calais, onde confrontos entre a polícia e os migrantes, que tentam subir clandestinamente para camiões que se dirigem ao Reino Unido, são quase diários.
As autoridades francesas disseram na sexta-feira que o campo de Calais, no norte de França e perto do canal da Mancha, começaria a ser evacuado a partir de hoje.
Prometido desde há várias semanas pelo governo socialista, esta operação acentuou a polémica sobre o acolhimento dos migrantes em França, a alguns meses das eleições presidenciais.
O assunto suscitou também tensões entre Paris e Londres.
“Teremos sucesso neste desafio humanitário”, prometeram os ministros do Interior, Bernard Cazeneuve, e da Habitação, Emmanuelle Cosse, em artigo publicado na sexta-feira no diário Le Monde, enquanto as ONG no terreno alertaram contra os riscos de “catástrofe” de uma operação precipitada.
O destino de 1.290 menores que se encontram isolados no campo constitui um dos aspetos mais complexos desta operação, com muitos a referirem pretender alcançar o Reino Unido, onde dizem ter familiares.
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