António Costa falava aos jornalistas após ter participado numa sessão na Fundação José Saramago, em Lisboa, depois de questionado sobre o teor das afirmações proferidas pelo ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa na terça-feira, em que reiterou acusações de que o primeiro-ministro fez pressão política junto do supervisor bancário no caso de Isabel dos Santos.
Perante os jornalistas, o líder do executivo começou por fazer uma alusão ao facto de hoje se assinalar o centenário do nascimento de José Saramago, considerando, por isso, que “este é o pior dia para se falar num livro em que cada página que se vai conhecendo se percebe que é um conjunto de mentiras, meias verdades e deturpações”.
“Sobre esse assunto já disse na semana passada o que tinha a dizer”, declarou, aqui numa alusão à sua intenção de processar o ex-governador do Banco de Portugal.
Carlos Costa “entendeu que devia montar uma operação política de ataque ao meu caráter, de ofensa da minha honra e da minha honorabilidade. Está no seu direito, mas eu também estou no meu direito de defender o que cada pessoa tem de mais importante, que é o seu bom nome”, reagiu o primeiro-ministro.
Ainda em estilo de contra-ataque, António Costa afirmou depois que está “há anos suficientes na vida pública para não admitir que, quem quer que seja, lá por ter sido governador do Banco de Portugal, ou ter sido o que quer que seja, minta” a seu respeito, dos seus atos e intenções.
“A história esclarecerá tudo e há muitas pessoas que conhecem a história. Confio na justiça. A honra, antigamente, lavava-se em duelos. Agora, felizmente, num Estado civilizado, uma democracia, num Estado de Direito, temos meios próprios de apurar a esclarecer a verdade nos tribunais”, assinalou.
Em nova crítica ao livro “Governador”, da autoria do jornalista Luís Rosa sobre o mandato de Carlos Costa enquanto governador do Banco de Portugal, o primeiro-ministro apontou que, cada página que vai conhecendo desse livro só justifica a sua decisão de recorrer aos tribunais.
“O doutor Manuel Magalhães e Silva representar-me-á pelos meios legais adequados para a defesa do meu bom nome, da minha honra e da minha consideração”, acrescentou.
Costa “orgulhoso” com atual situação da banca sem sobressaltos e sem nada na “gaveta”
O primeiro-ministro manifestou-se também orgulhoso com a evolução da banca entre 2015 e o presente, considerando que nada foi deixado na gaveta e que as instituições financeiras desenvolvem a sua atividade sem angústias para os poderes públicos.
De acordo com o primeiro-ministro, em relação à evolução do sistema financeiro nos últimos anos, em Portugal, “a situação de hoje, felizmente, não tem nada a ver com o que era em novembro de 2015”.
“Muitos trabalharam para isso. Seguramente o Banco de Portugal deu um contributo, mas não foi o único e, felizmente, houve outros que deram o contributo para que a estabilidade do sistema financeiro fosse possível”, defendeu.
Para o líder do executivo, a estabilidade do sistema financeiro “permitiu a Portugal recuperar a credibilidade internacional, deixando de ser considerado um país de risco de investimento”.
“Ano após ano temos atingido novos recordes na captação de investimento, deixámos de ter a nossa dívida classificada como lixo e este ano já duas agências revalorizaram o rating da República Portuguesa. Felizmente, hoje, temos bancos que são capazes de desenvolver a sua atividade sem angústias para os poderes públicos, com condições de financiarem a economia e sem que o país vive em sobressalto”, advogou ainda.
António Costa afirmou depois ter “muito orgulho” no trabalho desenvolvido pelo seu Governo, por si realizado e com os ministros das Finanças com quem trabalhou.
“E com quem se dispôs a trabalhar para que o sistema financeiro recuperasse de uma forma sólida, cumprindo as normas da União Europeia, sem se entrar em procedimentos por défice excessivo, sem estar sob regime de observação, sem estar sujeito a observações do Banco Central Europeu e sem se deixar coisas na gaveta”, frisou.
Segundo o primeiro-ministro, “fizeram-se mesmo coisas que muitos acreditavam que não era possível, como garantir que a Caixa Geral de Depósitos se poderia manter 100% com capital público, devidamente capitalizada, com uma gestão profissional e com resultados positivos que em muito já remuneraram o investimento feito pelo Estado”.
“Portanto, é com essa tranquilidade com tudo aquilo que fiz nas minha vida política nos últimos anos e, em particular nesta matéria, que não preciso de andar aqui a fazer polémicas. Deixarei para tratar no lugar próprio, que são os tribunais, a defesa do meu bom nome, da minha honra e da minha consideração. Não passei mandato a ninguém para que me ofenda”, acrescentou, em nova alusão ao ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa.
(Notícia atualizada às 14h01)
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