Recordando as ligações do grupo Hayat Tahrir al-Sham (Organização pela Liberação do Levante, conhecido pela sigla árabe HTS) à Al-Qaeda e outros movimentos terroristas, Ribal Al-Assad comparou o seu líder, Abu Muhammad al-Joulani, a Osama bin Laden.

“Será que [al-Joulani] está pronto para ter uma nova Constituição em que todos os cidadãos sejam iguais perante o Estado de direito? Estará ele pronto para anunciar publicamente que as mulheres e os homens, os muçulmanos e os cristãos, os xiitas, os judeus, os sunitas, os ismaelitas, os curdos árabes, os turcomanos, os sarracenos, os arménios têm os mesmos direitos”, questionou, em declarações à Agência Lusa em Londres.

Segundo este ativista, se Abu Muhammad al-Joulani o fizer, “então já não é um extremista” e os EUA, o Reino Unido e outros países “deverem reconsiderar o levantamento das sanções e retirá-lo da lista de terroristas”.

O HTS nasceu de um grupo de líderes descontentes com a organização Jabhat al-Nusra, afiliada da Al-Qaeda, que operava na Síria desde 2011.

Apesar deste corte com a Al-Qaeda e da adopção de uma posição cada vez mais moderada, o HTS continua a ser considerado um grupo terrorista por vários países e pela União Europeia.

Ribal Al-Assad fundou a Organização pela Democracia e Liberdade na Síria e tem feito campanha para uma transição democrática naquele país, que visitou pela última vez em 1999.

Residente em Londres, defendeu, em declarações à Lusa, um governo de unidade nacional e a aprovação de uma “nova Constituição progressista e moderna com a igualdade de todos os cidadãos”.

Defensor de um modelo federalista, Al-Assad espera o apoio dos países ocidentais como a Alemanha, Suíça ou os Estados Unidos.

Só depois, continuou, devem os EUA e a União Europeia levantar as sanções, abrindo caminho para um regresso dos refugiados sírios “para reconstruir o país, para o levar em direção ao futuro”.

No entanto, mantém reservas sobre a interferência de grupos islâmicos neste processo de transição política, preferindo um regime inspirado nas democracias ocidentais.

“Queremos ser como os países ocidentais. E queremos que o Ocidente nos apoie nesse sentido. Têm de nos apoiar na elaboração desta nova Constituição, porque sabem como é ter este sistema”, afirmou, alertando para o risco de apoiar um grupo que não tenha os mesmos ideiais.

Sobre o primo, que está asilado na Rússia, mas com quem não tem relações pessoais, Ribal Al-Assad, acusou-o de deixar um país com milhões de refugiados e deslocados internos, com infraestruturas destruídas e a economia de rastos.

“Se o idiota do Bashar tivesse feito [a transição democrática] há 13 anos, podíamos ter evitado tudo isto. Não teríamos todos estes grupos extremistas islâmicos, ‘jihadistas’, teríamos tido uma mudança pacífica para reconstruir o nosso país”, lamentou.

O partido sírio Baas, do ex-Presidente Bashar al-Assad, declarou na segunda-feira apoiar a fase de transição no país, após o derrube do regime.

“Continuaremos a apoiar uma fase de transição na Síria visando defender a unidade do país”, declarou o secretário-geral do partido, Ibrahim al-Hadid, em comunicado.

O líder dos rebeldes sírios, Abu Mohammed al-Jolani, discutiu na segunda-feira com o ex-primeiro-ministro Mohammed al-Jalali uma “coordenação da transição de poder”, anunciou o movimento que derrubou o Presidente Bashar al-Assad.

Al-Jolani – que passou a usar o seu verdadeiro nome, Ahmad al-Chareh – conversou com al-Jalali “para coordenar uma transição de poder garantindo a prestação de serviços” à população síria, afirmaram os rebeldes, num comunicado acompanhado de um breve vídeo da conversa.

Antes, o movimento encarregou Mohamed al-Bashir, o líder do “Governo de Salvação” – a administração de fato na província síria do norte de Idlib controlada pelo HTS – de formar um Governo de transição, noticiou a televisão síria, dirigida agora pela oposição.

No vídeo da reunião divulgado pelo HTS, o líder rebelde al-Jolani assegurou que, apesar de a região de Idlib, onde tinha a sua autoridade de facto, ser pequena e sem recursos, os responsáveis pela sua administração conseguiram acumular experiência e sucessos.

Além disso, precisou que não vai prescindir dos funcionários qualificados do regime deposto.

O HTS, após a tomada de poder na Síria, lançou vários comunicados nos quais prometeu tolerância em relação aos seguidores de diferentes igrejas e confissões no país, e advertiu os seus membros de que devem evitar maus-tratos ou agressões aos civis.