“Foi uma batalha histórica, em que salvámos a Síria e toda a região do perigo estratégico (…) de uma ameaça contra a sua existência. A Síria corria o risco de se dividir (…) Conseguimos reunificar os sírios”, sublinhou Al Shara, conhecido pelo nome de guerra Abu Mohammed al-Jolani, num discurso na mesquita Imam Shafie, em Damasco.
O líder do Hayat Tahrir al Sham (HTS, Organização para a Libertação do Levante), herdeiro da antiga afiliada da Al Qaeda na Síria, surgiu como a principal figura da vertiginosa ofensiva rebelde que em apenas duas semanas conseguiu derrubar o regime de Bashar al Assad, que se manteve no poder durante 24 anos.
A operação surpresa, à qual as forças governamentais mal resistiram, terminou quando os rebeldes conseguiram capturar Damasco no passado domingo e o presidente deposto fugiu para Moscovo com a sua família.
“Vocês viram que a luta foi fácil, mas eles estavam muito bem preparados. Deus estava do nosso lado”, vincou Al Shara, que garantiu que os insurgentes usaram armas “fabricadas localmente” que obtiveram “com grandes esforços”, como drones e rockets de média distância.
O líder rebelde lembrou ainda que “não houve nenhum país que apoiasse” a insurgência, apesar de várias organizações e ativistas apontarem a Turquia como o principal apoiante da oposição armada a Assad.
“Mas tínhamos toda a confiança de que íamos ganhar”, frisou o islamista, acrescentando que as intenções do seu grupo são “servir o povo” e não qualquer partido ou fação em particular, numa altura em que há dúvidas sobre como será a transição .
Al Shara reiterou o seu apelo para que “todas as pessoas deslocadas” durante os 13 anos de guerra no país árabe regressem com o propósito de “construir a nova Síria”.
Também o primeiro-ministro responsável pela transição na Síria, Mohammad al-Bashir, apelou hoje aos milhões de exilados para regressarem ao país, em entrevista ao diário italiano Corriere della Sera.
Enquanto os países ocidentais estão preocupados com a forma como o novo poder, dominado pelo HTS, tratará as muitas minorias na Síria, o primeiro-ministro interino procurou tranquilizar a comunidade internacional.
“É precisamente porque somos muçulmanos que vamos garantir os direitos de todos (…) e de todas as religiões na Síria”, frisou.
O HTS garante ter rompido com o ‘jihadismo’, mas continua a ser classificado como terrorista por vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos.
Bashir apelou ainda aos sírios exilados para que regressassem a casa para “reconstruir” o país, com uma maioria árabe sunita, onde vivem juntas várias comunidades étnicas e religiosas.
Cerca de seis milhões de sírios, um quarto da população, fugiram do país desde 2011, quando a repressão dos protestos pró-democracia desencadeou uma guerra devastadora.
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