A Procissão do Senhor dos Passos da Graça remonta a 1587 e é a “mais emblemática e importante” do período da Quaresma. Realizada desde então anualmente é a maior manifestação pública de fé que se realiza na cidade de Lisboa.
Primeira procissão de Passos “em antiguidade”, é precursora das procissões de Passos espalhadas por Portugal e pelo mundo. Evoca a paixão e morte de Jesus Cristo e retrata a distância da Via Sacra de Jerusalém, com as imagens do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora.
Organizada pela Real Irmandade Senhor dos Passos da Graça, esta retomou, em 2013, o percurso original, entre a Igreja de São Roque até à Igreja da Graça, atravessando o coração de Lisboa, pela Rua da Misericórdia, Rua Garrett, Rua do Carmo, Rossio, Rua Largo 1º de Dezembro, Largo de S. Domingos, Praça Martim Moniz, Calçada dos Cavaleiros, Largo do Tenrinho e Calçada de Santo André até chegar à Igreja da Graça.
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“Este percurso (três quilómetros) é realizado desde 1587, mas a partir de 1910, devido à implantação da República, começou a ser feito apenas na Graça. Em 2013 retomámos o percurso cumprindo a tradição secular”, sublinha o provedor da Real Irmandade dos Passos da Graça, Francisco de Mendia, que recuperou na memória o ano de 1987, “em que se celebrou os 400 anos da Irmandade e em que excecionalmente foi feita a procissão original”.
Uma Irmandade de gente nobre e nobre gente
Esclarecendo que “o lado tradicional sempre atraiu a principalidade”, numa breve consulta aos arquivos da Irmandade descobre-se entre políticos e militares nomes como Marquês de Pombal ou Marcelo Caetano, Duque Saldanha ou Duque de Loulé. D. Afonso, Príncipe das Beiras, filho de D. Duarte de Bragança é o atual elo de ligação da Casa Real portuguesa, uma presença constante à Procissão.
No passado, tal com no presente, aos irmãos de nobres apelidos juntam-se mãos e ombros de outros irmãos de devoção nobre. E há uns mais antigos que outros com a Família Sampaio Mello e Castro a garantir a 12ª geração.
O Primeiro Passo
As Irmandades e as Ordens Religiosas, de Cavalaria e Militares presentes estão devidamente identificadas. A cor roxa da Opa denuncia os irmãos da Real Irmandade dos Passos da Graça.
À saída da igreja de São Roque, tudo obedece a um ritual. O Senhor dos Passos estreia todos os anos uma túnica. Há o Pendão, a Bandeira Processional, crianças vestidas de anjos e as irmãs da Irmandade sem atribuições, vestidas de preto, lanternas, as lanternas do Andor da Nossa Senhora e do Andor do Senhor dos Passos, a Aia e o Mordomo da Nossa Senhora, as diversas Irmandades e Ordens convidadas, Irmãos sem atribuições, o Andor do Senhor dos Passos, com a guarda da Polícia do Exército e Pálio com o Cardeal Patriarca. Uma banda à frente e outra no final desenham os limites deste “cortejo” que atravessa o coração da Capital e que é presidido pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, um dos seus grandes impulsionadores.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, que foi da Igreja de São Roque à Graça, é um entusiasta desta manifestação de fé católica que capta os olhares dos milhares de turistas que andam pelo “Baixa” de Lisboa. Marcelo Rebelo de Sousa, na pele de cidadão, é um dos seus devotos. Juntou-se a meio caminho, no Martim Moniz e foi até à Graça, onde ficou para a Missa.
“Em nome do Pai...” arrancou o Padre Vaz Pinto falando do 1º Passo em que “Jesus é condenado à morte e pregado na Cruz”. Começa o caminho com três quilómetros de distância e que demorará cerca de três horas.
Banda comanda os passos dos fiéis e curiosos. Mergulham na Rua da Misericórdia ladeada de milhares de turistas de telemóveis em punho filmando a tradição secular. Os devotos, em especial as idosas, algumas com um terço nas mãos, apressam o passo e, por vezes, acotovelam-se para acompanhar tudo a par e passo. A Polícia Municipal e Escuteiros tentarão, daqui para a frente, fazer um cordão de segurança que nem sempre é respeitado por quem quer estar perto do acontecimento.
O peso do Andor “obriga” a uma breve paragem dos irmãos do Senhor dos Passos a cada 50 passos para descanso. Na Igreja da Nossa Senhora da Encarnação é feita a primeira paragem, com o Senhor dos Passos virado para a porta da igreja barroca tardia e rococó. Este é o 2º Passo. “Jesus cai sobre o peso da Cruz”.
Rua Garrett, Rua do Carmo, mais turistas. No Rossio, na Pastelaria Suíça, umas ceifeiras de um rancho folclórico destacavam-se entre a multidão. Com o Largo 1º de Dezembro nas costas, na Igreja São Domingos surge a imagem de Nossa Senhora. Este é um local em que se escreveu um dos episódios mais negros da história de Lisboa: o massacre dos judeus da cidade, em 1506, acontecimento registado numa placa alusiva. Hoje, esta mesma rua é uma celebração viva de uma Lisboa da diversidade religiosa. Este é também o 3º Passo no qual “Jesus encontra a Mãe”. E também é a 4ª estação da Via Sacra. É um dos momentos em que a fé é manifestada de forma mais intensa.
Cumprindo o protocolo, a Imagem de Nossa Senhora seguirá na frente. Com as “Palavras da Salvação” e palmas tímidas abafadas pela música da banda, depois da passagem pelo prédio do Brás & Brás em que ainda se vê o “desde 1777”, os sinos que escutados na Travessa de São Domingos anunciam a entrada no Martim Moniz.
Depois do Chiado cosmopolita e das lojas de marcas globais, daqui para a frente esta é a Lisboa das etnias e dos diversos credos religiosos, de hindus a muçulmanos, passando pelas crenças oriundas do Império do Meio. Os turistas são trocados por residentes africanos, chineses, indianos e paquistaneses. E as lojas da moda por outras fora dela.
O cidadão Marcelo à espera às portas da Mouraria...
Na Ermida de Nossa Senhora da Saúde, no Martim Moniz, às portas da Mouraria, lá estava o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, que também é presidente da República.
Assunção Cristas, líder do CDS também se juntou à Procissão nesse mesmo local.
Enquanto umas idosas discutiam se era Senhor ou a Senhora dos Passos, algo que a explicação pronta de uma delas de que se tratava da “Nossa Senhora das Dores”, escuta-se que este é o 4º Passo. “Jesus consola as mulheres de Jerusalém”.
Após o “Nossa Senhora da Saúde Rogai por Nós” uma pequena obra entre o Martim Moniz e a Mouraria obrigam a um aperto no cordão humano onde segue Medina, Marcelo e Cristas. Na Porta do Largo Tenrinho, em plena Calçada dos Cavaleiros, o 5º Passo: “Verónica limpa o rosto de Jesus”. À janela ou na rua, para os residentes dos quatro cantos do mundo que ali vivem, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente dos afetos e das selfies, parece roubar as atenções ao Senhor que está na Cruz.
Subida íngreme para a Graça pela Calçada de Santo André até ao Passo de Santo André, inserido na casa onde nasceu S. João de Brito. Este é o 6º Passo: "Jesus é ajudado por Simão de Cirene a levar a Cruz". Recorda-se que todos “devemos abraçar a Cruz que não é nossa” e tal como João de Brito “construir pontes”, algo que Marcelo, o Presidente, também ele não se tem cansado de o fazer.
...e foi à Missa à Graça
Na derradeira subida para a Graça, a população idosa está em larga maioria. O badalo dos sinos anuncia a chegada da Procissão ao Miradouro da Graça. E ao 7º Passo: “Jesus é crucificado, morto e sepultado”. D. Manuel Clemente faz a bênção final, entre o “Louvado seja o Senhor”, com o olhar atento de Fernando Medina, fala de uma Lisboa cidade da justiça, da paz e da fé e termina com um “Amém”. Mais de 4 horas depois de ter arrancado da Igreja de São Roque, as duas imagens, Senhor dos Passos e Nossa Senhora, entram na Igreja da Graça. Seguir-se-á a Missa presidida pelo Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente. E a que assistirá Marcelo Rebelo de Sousa, Fernando Medina e Assunção Cristas.
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